1 de março de 2025

Tempo de Leitura: 2 minutos

Esse artigo foi elaborado por conta de uma inquietação pessoal, principalmente em função do atual momento de mudança na política norte-americana, onde o governo eleito estabeleceu uma pressão para que muitas empresas encerrassem ou diminuíssem seus programas de DEI (diversidade, equidade e inclusão)..

Bom, como sou uma pessoa que tem uma experiência em diversidade de quase 30 anos de atuação, principalmente na inclusão de pessoas com deficiência, gostaria de trazer alguns exemplos de impacto para muito além das inúmeras pesquisas que apontam os benefícios dos programas de diversidade e inclusão. Quero falar de histórias reais.

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Quando eu trabalhava em uma multinacional que tinha um programa muito sério de diversidade, equidade e inclusão, lembro-me de um exemplo que me tocou bastante, quando nós contratamos uma senhora preta, de quase 50 anos, com deficiência intelectual moderada, uma pessoa que não era alfabetizada e que, antes, trabalhava como coletora de resíduos buscando latinhas de alumínio para a sua sobrevivência e a do seu filho, que também era uma pessoa com deficiência intelectual.

Na época, Vitória, como vou chamá-la aqui neste texto, para preservar sua identidade, foi contratada como auxiliar de serviços gerais e toda a sua adaptação para que pudesse trabalhar, além de toda a acessibilidade que ela necessitava foram feitas com o auxílio de uma metodologia chamada de “emprego apoiado”. Por exemplo,  a rotina e as instruções de trabalho eram dadas a ela com orientações por meio de desenhos que mostravam como ela deveria fazer sua atividade, até porque ela não era alfabetizada.

Sempre que eu encontrava com a Vitoria, ela estava com um sorriso no rosto e era muito agradecida àquela oportunidade de trabalho. Mas, um dia, perguntei o que ela mais gostava do seu trabalho. Vitória me respondeu rapidamente, sorrindo, que agora trabalhava limpinha e as pessoas falavam com ela — o que não acontecia quando era coletora de resíduos, de latinhas.

Respirei fundo para não chorar na frente dela e depois fiquei pensando muito em como as empresas podem impactar a nossa sociedade de forma positiva e ter bons resultados.

Outro exemplo que acho importante falar aqui: uma outra empresa em que eu trabalhei regularmente organizava homenagens para as mulheres, principalmente no Dia Internacional da Mulher, sempre ressaltando a força da mulher, a maternidade e temas afins. Um dia, por indicação da área de DEI, o tema escolhido para o Dia Internacional da Mulher foi a violência contra as mulheres e como elas poderiam se proteger e sair dessa situação. Claro que é um tema denso, mas tivemos muitos relatos de mulheres que mencionaram viver em situação de violência e o quanto foi importante receber as informações da empresa para tentarem mudar sua situação de extremo risco de vida.

Importante lembrar que, por meio de programas de DEI, muito mais pessoas pretas tiveram oportunidades de conseguir um emprego, quer seja por meio de recrutamentos com vagas reservadas, programas de mentoria ou capacitação, e com isso conquistaram um trabalho!

Para finalizar, quero lembrar que a maioria das pessoas autistas que acompanhamos na inclusão profissional teve a oportunidade por meio de iniciativas e programas de diversidade, equidade e inclusão.

Afirmo, sem nenhuma dúvida, que as empresas que renunciarem a departamentos e iniciativas de DEI vão se tornar piores empresas, não retendo talentos e proporcionando uma cultura que privilegia apenas parte da sociedade.

Seguimos em frente, sem retrocessos, apoiando e fortalecendo ações que valorizam a diversidade, equidade e inclusão.

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Psicólogo, especialista em terapia comportamental cognitiva em saúde mental, mestre em psicologia da saúde, com experiência na gestão de programas de diversidade e inclusão em empresas como Sodexo no Brasil. Há 4 anos, faz parte do grupo de trabalho sobre Direitos Humanos nas Empresas da rede brasileira do Pacto Global da ONU e é diretor geral da Specialisterne no Brasil, organização social de origem dinamarquesa presente em 21 países, que atua na formação e inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho.

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