4 de junho de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

No artigo anterior, abordamos um pouco sobre a associação do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Hoje falaremos de algumas das características de pessoas autistas com TDAH e como o ambiente, sobre tudo o ambiente de trabalho, também pode apoiá-las e favorecer a diversidade e inclusão nas empresas.

Inicialmente é importante esclarecer que hoje em dia podemos compreender o TDAH como uma condição de “apresentação combinada”, ou seja, quando a pessoa apresenta características tanto de desatenção como de hiperatividade e impulsividade, e uma condição de apresentação “predominantemente desatenta” ou “predominantemente hiperativa/impulsiva”. Sendo a predominância relacionada à quantidade de características ou de desatenção ou de hiperatividade/impulsividade presentes naquela pessoa nos últimos meses. Portanto, podemos conhecer pessoas autistas com diagnóstico de TDAH que tenham perfis bem diferentes.

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No que diz respeito às caraterísticas relacionadas à desatenção é comum que a pessoa tenha dificuldades em manter a atenção e o foco em atividades prolongadas, como por exemplo longas reuniões ou apresentações. Ela pode se distrair com maior facilidade quando está diante de outros estímulos, como pessoas conversando ou barulhos repetitivos. Pode também ser mais desafiador organizar, iniciar ou concluir atividades, lembrar de compromissos e seguir o planejamento de sua rotina.

Vale lembrar que muitas pessoas autistas com TDAH já possuem estratégias próprias para se autogerenciar, como por exemplo realizar mais intervalos durante o trabalho diante de atividades longas e usar fones de ouvido nos dias de trabalho presenciais. Portanto, é importante compreender que essas adaptações são fundamentais para que ela possa trabalhar com mais tranquilidade e entregar com mais qualidade.

Quanto às características relacionadas à hiperatividade e impulsividade notamos que algumas pessoas podem ter dificuldades em aguardar sua vez, responder antes que uma pergunta seja concluída e falar frequentemente bastante. Além disso, apresentam sensações de inquietude e desconforto ao ficar muito tempo paradas. Portanto, as pausas, especialmente para caminhar ou se movimentar, são fundamentais para que possa gerenciar essas sensações e desconfortos.

Além disso, colegas de trabalho e gestores também têm muito a contribuir! Diante de um novo projeto que deverá ser entregue a médio ou a longo prazo, pode-se avaliar a viabilidade de dividi-lo em etapas e entregas menores para facilitar o planejamento e a organização. Recursos como agendas e calendários virtuais são extremamente interessantes para formalizar combinados e servirem como lembretes de reuniões. As listas de tarefas ou aplicativos de gerenciamento de atividades são muito úteis para concretizar e acompanhar o andamento do trabalho. Um feedback estruturado e diretivo da área de desenvolvimento de pessoas ou até mesmo o treino de habilidades sociais de um mentor que atue com o colaborador, também irão ajudá-lo a administrar seus comportamentos e ações no ambiente de trabalho.

Essas são estratégias simples e práticas, mas que podem fazer muita diferença para as pessoas neurodivergentes. Sabemos que ainda existem muitos desafios em todo o processo de inclusão e que a estrada parece longa. Porém, o primeiro passo que precisamos dar é assumir o compromisso a partir de uma pequena mudança na nossa forma de pensar ou de nos comportar. Quando assumimos o compromisso descobrimos que as vantagens com certeza excedem os desafios.

Juliana Fungaro
Atua como Coordenadora de Treinamento na Specialisterne Brasil na capacitação e preparo de pessoas autistas para o mercado de trabalho. Aluna de MBA em Gestão de Pessoas na USP/Esalq. Mestra profissional em Análise do Comportamento Aplicada pelo Paradigma Centro de Ciências do Comportamento e Psicóloga formada pela Universidade Mackenzie.

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