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Um livro revelador. Lançado em abril do ano passado nos Estados Unidos, “Crianças de Asperger — As origens do autismo na Viena nazista” (322 páginas), da premiada historiadora norte-americana Edith Sheffer, acaba de chegar às livrarias brasileiras pela Record editora, com tradução de Alessandra Bonrruquer. ,
Sheffer é especialista em história da Alemanha e da Europa Central, e senior fellow do Instituto de Estudos Europeus da Universidade da Califórnia, Berkeley. . . A revelação grave se dá por conta da mancha que a autora teria descoberto na biografia do médico Hans Asperger.
Relevante o suficiente para muitos não usarem mais o termo “Asperger” para a síndrome que leva seu nome, ainda mais considerando que esse tipo de diagnóstico não existe mais oficialmente desde 2013, com o lançamento do DSM-5 — versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, da American Psychiatric Association —, em que a síndrome foi incluída no diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo.
O livro narra que Asperger era tido como um progressista que incentivava o cuidado individualizado em crianças com (à época) “sintomas de psicopatia de autismo”. Ele entrou para a história da psiquiatria ao ampliar os critérios de definição dessa condição de saúde e dar uma “nova cara” ao autismo. Porém, Crianças de Asperger traz, a partir das análises de documentos realizadas pela autora, novas informações sobre a atuação do médico, e afirma que ele esteve envolvido nas políticas de assassinato de crianças no período nazista.
Viena nazista
Segundo o livro de Sheffer, “arquivos revelam que Asperger participou do sistema de assassinato infantil em múltiplos níveis: ele era próximo de líderes do sistema de eutanásia infantil em Viena e, como membro do Estado nazista, enviou dezenas de crianças para a instituição infantil de Spiegelgrund, onde eram mortas”.
A autora mostra que Asperger e seus colegas de fato se esforçaram em proporcionar cuidado individualizado para estimular o crescimento cognitivo e emocional de crianças que estariam na ponta “favorável” do espectro do autismo e tinham potencial para a “integração social”. Por outro lado, as crianças julgadas por apresentarem deficiências maiores não tinham lugar no Reich, sendo pessoalmente examinadas pelos médicos e condenadas à morte.
A obra, com nome original “Asperger’s Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna“, nos leva a refletir sobre como as sociedades avaliam, rotulam e tratam as pessoas diagnosticadas com algum tipo de deficiência.
Ficha Técnica
- Livro: Crianças de Asperger — As origens do autismo na Viena nazista
- Autora: Edith Sheffer (EUA)
- Tamanho: 322 páginas
- Editora: Record
- Tradução: Alessandra Bonrruquer