1 de março de 2020

Tempo de Leitura: 2 minutos

The Good Doctor, série criada por David Shore, conta a história de Shaun Murphy, um autista de alto-funcionamento (asperger) que quer ser cirurgião e está fazendo residência em um hospital. E a história também é sobre todos os personagens que trabalham no hospital e possuem alguma relação com Shaun. Em uma clássica fórmula de série de drama hospitalar, há um conjunto de protagonistas (alguns recebendo mais foco do que outros), todos com suas psiques e histórias de vida desenroladas na nossa frente para que fiquemos introspectivos com nossos próprios questionamentos ético-sociais.

Vários personagens têm arcos emocionais desde suas introduções (David Shore é o mesmo que nos trouxe a série House, afinal), passando de não confiar na capacidade de Shaun, para eventualmente respeitá-lo e até tratá-lo como um amigo. Porém, isso não impede a série de também apresentar alguns personagens desprovidos de tridimensionalidade, que são apenas a manifestação de alguma mensagem social que o episódio quer passar sobre como a maioria das pessoas enxerga o autismo, e como reage e trata uma pessoa com autismo que esteja em seu círculo de amizades. 

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No entanto, essas mensagens passadas são muito potentes, e muito relevantes. Alguns temas que não costumam ser abordados com tanta profundidade em outras representações do autismo nas telas, como a hipersensibilidade, ou a tentativa de se adequar a uma linha de pensamento alternativa, são abordados, e possuem, graças à longa duração que uma série de TV possibilita, várias cenas que vão fundo em tais assuntos.

O elenco também contribui para conseguir passar tal sentimento ao público. É um grupo bem diversificado, com personalidades de “todas as cores”, e embora poucos realmente deem uma performance considerada realista, o carisma e a energia que colocam nesta imagem revela tanta autoconfiança e carinho pelo trabalho que estão realizando na série, que somos cativados mesmo assim.

Destaque

Por outro lado, Freddie Highmore realmente se destaca de todos os outros. Sua performance como Shaun Murphy não é apenas completamente exata na retratação de uma pessoa no espectro. Ela também é charmosa, fascinante, com um personagem que não apenas é digno de apreço do público, mas que também acaba sendo muito identificável e fácil de entrar em sintonia com a lógica esperada do espectador.

Todo esse carisma emocional acaba sendo útil em cobrir um pouco o impacto de quebras de realismo na escrita do roteiro. Neste aspecto, o roteiro faz as burocracias e a circulação de vagas dentro do hospital serem totalmente fora da realidade, criando uma lógica interna própria de como são todos esses funcionamentos, de forma a encurtar os trechos de explicações entediantes e partir logo para cenas que retêm algum impacto, ou emocional, ou de progressão da trama, como um episódio isolado e como uma história contínua.

A série é cheia de personalidade na maioria das vezes, e mesmo quando algumas de suas cenas falham em prender o interesse emocional do público, a experiência como um todo é extremamente agradável e intrigante. E pode ser uma das melhores representações narrativas já feitas de uma parte do espectro do autismo. Definitivamente recomendado.

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É videomaker, fotógrafo e editor, graduado em Cinema, Rádio e TV e irmão de Rafael, autista adulto.

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