6 de junho de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos
Você sabe como é acordar pela manhã e sentir que é aceito, que é respeitado, que é incluído e que pode ir e vir a todos os locais e participar efetivamente em todos os ambientes da sociedade? Eu não sei, a maioria das pessoas autistas não sabem. Mas deveriam saber. Poderiam saber se as pessoas entendessem melhor as diferenças e não encarassem tudo que é atípico como algo ruim, negativo ou que precisa ser superado.
Quantas vezes vemos por aí textos “motivadores” dizendo que é possível superar o autismo ou matérias jornalísticas que destacam como vivem as pessoas que “sofrem” de autismo? Vemos campanhas que tratam o autismo de modo tão negativo que até aceitamos como consequência da condição em que a pessoa existe, um enlutamento, tamanho sentimento de perda que é conceber um filho neurodivergente.
Apesar disso tudo, seguimos existindo, continuamos persistindo. Eu não escolhi ser autista, ninguém escolhe ter um filho autista. Parece óbvio, mas é preciso dizer que ninguém escolhe existir dessa ou daquela maneira. Não se escolhe ser autista e também não se escolhe não ser. Faz parte da existência humana toda essa diversidade, e não tem uma maneira mais correta de ser.
Digo a vocês com toda convicção: não há o que superar no autismo, ninguém sofre de autismo. O que as pessoas autistas precisam superar são as barreiras que impedem a convivência em igualdade de condições. O sofrimento está em não ser aceito, na discriminação, no preconceito. A falta de acessibilidade e a exclusão fazem parte do cotidiano das pessoas autistas. Existir dessa maneira fica mais difícil por causa disso. Mas, apesar de tudo, seguimos existindo, seguimos persistindo.
Precisamos seguir! E, para isso, precisamos nos orgulhar de quem somos. Para isso, serve o orgulho autista. Para que nos ajude a persistir. Muitos autistas não conseguem, muitos pais e mães não conseguem. Muitos têm vontade de partir, de desistir. Muitos desistem! Pais que abandonam a família, mães que não têm nem o direito de morrer por não saberem quem cuidará dos filhos. Pessoas autistas que tiram a própria vida por não terem suas demandas respeitadas. E tudo isso por causa dessa visão negativa em que o autismo é um peso para a sociedade. Não é fácil ser um peso para todos.
Por todos esses motivos, é que devemos nos orgulhar de quem somos e de como somos. Só se orgulha do que é difícil conseguir. E nós precisamos conseguir existir, apesar de todas as adversidades. Orgulhar-se de quem somos não é negar que precisamos de ajuda. Não é negar as dificuldades que o Transtorno do Espectro do Autismo nos traz. Esse orgulho tem a ver com entender quem somos, com sabermos que não somos menos do que ninguém e que, como qualquer ser humano que tenha alguma dificuldade, merecemos o auxílio que precisarmos.
Não queremos ser exemplos de superação, mas ainda somos muitas vezes. Queremos que um desenvolvimento pleno seja apenas consequência de alguém que foi aceito e não de alguém que teve que lutar todos os dias contra aspectos de suas vidas apenas porque sua existência é vista como sofrimento ou algo a ser superado.
Toda a sociedade precisa superar a intolerância para que não soframos mais com a incapacidade de viver com a diversidade que sempre engrandeceu a raça humana. Evoluímos porque somos diferentes e nunca quando tentamos eliminar as diferenças. A história já nos mostrou isso e não podemos esquecer.
Autistas, comemoremos o orgulho autista até que possamos comemorar o orgulho de não precisarmos mais nos superarmos a cada dia para apenas existirmos como seres humanos neurodiversos que somos.
Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismo
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