Tempo de Leitura: < 1 minuto
Me parece que as pessoas estão vacinadas contra a dor do outro. Ninguém mais se importa. Outro dia recebi um e-mail de uma pessoa dizendo que estava desistindo dos encontros do Roda porque as histórias eram muito tristes e ele ficava com dor de estômago. Não consegui responder nada. Fiquei ali parada pensando, que decisão é essa? Não quero ouvir mais, assim não penso mais nisso. Receita dos nossos políticos. Receita dos planos de saúde. Afasto de mim, deixo de ouvir e finjo que não existem.
Mas existem e estão desesperadas: “é desumano o que eles fazem com a gente. Pensamentos de suicídio é um a cada milésimo de segundo em minha mente. Pelo amor de Deus, alguém tem que nos ajudar”. Se precisar vou reescrever todos os dias esse trecho de conversa. Essas vidas estão na conta do governo. Um governo irresponsável que só faz prometer e não cumprir. Que lutem pelos seus direitos. Com que armas se a munição está toda com eles?
Vidas que se perdem. Crianças que se perdem e perdem sua chance de brincar, sorrir. Só essa semana, essa foi a segunda mãe que falou em suicídio comigo. Rogando por ajuda. Nessa quaresma estamos de fato revivendo a Via Crúcis de Jesus Cristo. Elas carregando a cruz da falta de atendimento de norte a sul dessa megalópole; sendo jogadas como bolas de um serviço para outro. E todos lavam as mãos.