28 de agosto de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Este é um texto em defesa da ciência. Então, como deveria acontecer com qualquer ideia que agarramos com unhas e dentes, é preciso entender sobre ciência para defendê-la. E mesmo que o propósito seja criticar ou combater ideias que a instituição Ciência validou, a lógica é exatamente a mesma. Ou seja, a ciência se corrobora ou se contesta com mais ciência.  Este me parece o caminho para desenvolver uma sociedade mais justa, com a ciência em prol das pessoas.

Isso não é, necessariamente, o que se percebe na atualidade. Afinal, os discursos melhor aceitos socialmente não estão livres de estigmas ou preconceitos. E nem mesmo de estereótipos. Sequer a ciência mais dura está livre da interpretação coletiva. O que inclui construções imaginárias e enviesadas e, em alguns casos, até equivocadas.

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A relação entre Autismo, História e Ciência

Nesse sentido, autores como Walter Rodney e Mudimbe percebem que a história como área do conhecimento também é uma narrativa.  E, portanto, sujeita a recortes que modificam o todo. Essas áreas são, portanto, construções humanas e, como tal, dizem mais de quem tem a maior possibilidade de criação do que das pessoas as quais emitem os juízos de valor. Foi assim que, por exemplo, deixamos historicamente tantas mulheres sem acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequados.

A partir daí, percebo a relação entre História, Ciência e Autismo. Essa observação vem de uma análise acadêmica, mas, também, de uma vivência que é bastante específica. Afinal, como uma mulher autista com alguns recortes de vulnerabilidades muito marcantes, eu experienciei o melhor e o pior da ciência. Portanto, eu conheci de perto a angústia da vulnerabilidade e a dor da subjugação.  Mas também, fui ao encontro da recompensadora produção de conhecimento e a alegria de colaborar com outras pessoas para que elas desenvolvessem autonomia.

Por que escrevo em defesa da ciência?

Tive acesso às melhores técnicas e aos profissionais mais arrogantes. Isso não chega a ser problemático se a gente pensar que é justo arrogar para si o que tem. O que eu não admito é quando alguém arroga para si o que não tem para impor sua perspectiva a outras pessoas. Essa imposição costuma trazer muita dor e sofrimento. Se, além disso, vejo que alguém utiliza-se dessa autoridade para enganar e ludibriar o outro, eu já começo a dar sinais de um meltdown. Porém, hoje mais madura, direciono o foco à minha própria construção de conhecimento. Faço isso embora perceba que uma boa defesa, para alguns, soa como um ataque. Sem contar que um copo cheio que não cabe mais nada, uma hora transborda de humilhação.

Tudo é muito complexo na comunidade do autismo. Por isso são tão grata à minha mãe, que me criou com os valores da paz, da ponderação, da coerência e autenticidade.  Graças a ela, aprendi que agir com gentileza sempre valerá a pena quando surgir algum embate científico. E que bom que esses conflitos existem! Afinal, para defender a ciência,  também é preciso combater o que vem junto com ela mas que é tudo, menos ciência.

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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