1 de setembro de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

Muitas pessoas com Transtornos do Espectro Autista (TEA), além das características clássicas como, déficit de interação social, dificuldades na comunicação verbal e não verbal e interesses e ou atividades repetitivas e estereotipadas, também podem apresentar outras associações como a epilepsia, a deficiência intelectual, distúrbios do sono, transtorno de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ataxia e distúrbios gastrointestinais.

O exercício físico tem sido estudado como uma abordagem complementar para auxiliar no manejo dos sintomas do TEA, embora seja importante notar que cada pessoa é única e pode responder de maneira diferente.

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O fato do exercício “fazer bem” já é um consenso, mas como isso funciona?

A etiologia do TEA está pautada nas alterações em fatores genéticos e ambientais ou por sua interação. Um número crescente de estudos sugere que a estrutura sináptica anormal está intimamente relacionada ao início do TEA, podendo ser conceituado como um distúrbio sináptico ou chamado de “sinaptopatia”, logo, melhorar a desregulação da estrutura e função sináptica pode ser um método promissor para promover a reabilitação clínica, e as alterações neuronais causadas pelo exercício podem ter efeitos benéficos nesse sentido.

Durante o exercício, ocorre a liberação de neurotransmissores, como endorfinas, serotonina e dopamina, que estão envolvidos no humor, bem-estar e regulação emocional. Esses neurotransmissores podem ajudar a melhorar a estabilidade emocional e reduzir a ansiedade e o estresse associados ao TEA.

O exercício tem sido associado a melhorias na plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e remodelar suas conexões neuronais, por exemplo, o exercício crônico em esteira pode melhorar a sinaptogênese e a transmissão sináptica e aumentar a atividade neuronal e a mielinização axonal, levando a um melhor aprendizado motor. 

Vale a pena notar que a intervenção com exercícios pode não apenas melhorar o aprendizado e a cognição ao promover a sinaptogênese, mas também diminuir a densidade das sinapses ao regular a poda sináptica dependente da micróglia, levando à otimização dos circuitos neurais no cérebro.

Ou seja, o exercício consegue atuar na promoção do equilíbrio neuronal, atuando tanto na neuroplasticidade e neurogênese, como na poda sináptica, fator importante para promoção do movimento aprendido, automatizado, o que requer diminuição de unidades motoras para realizar uma ação anteriormente interpretada como complexa pelo cérebro, assim como andar de bicicleta, que no começo nos exige muita atenção e cuidados, até que tudo fique automatizado e confortável, embora sempre exista um mínimo de controle e atenção perante a situação exposta. Desta forma podemos hipotetizar que o exercício modula e/ou seleciona a quantidade de informações para realizar tarefas diferentes, melhorando comportamentos agitados e déficit de atenção compartilhada.

Tudo isso significa que existem valores de transferência de aprendizado do exercício e do esporte para as atividades da vida diária, essenciais no controle de comportamentos disruptivos associados, como a agressividade e certos movimentos estereotipados.

Através da promoção da plasticidade cerebral, o exercício pode facilitar a aprendizagem, a cognição e o desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas, ajuda a canalizar e redirecionar a energia excessiva, reduzindo a hiperatividade e as estereotipias, além de promover um sono mais saudável, ajudando a regular o ritmo circadiano e melhorar a qualidade e a duração do sono.

É importante ressaltar que o exercício físico não é uma cura para o TEA, mas pode ser uma estratégia complementar valiosa para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral. É fundamental que qualquer programa de exercícios seja adaptado às necessidades individuais, preferências e habilidades de cada pessoa, considerando suas limitações e respeitando suas preferências, tornando-se prazeroso. É sempre recomendado buscar a orientação de profissionais de saúde, como professores de educação física, médicos e terapeutas, ao implementar um programa de exercícios para pessoas com TEA.

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Professor de educação física, doutor em ciências pela faculdade de Medicina da USP, especialista em educação física adaptada e saúde, docente da Universidade Paulista, coordenador de pós-graduação pelo CBI of Miami em educação física nos transtornos do espectro autista e exercício físico e saúde mental.

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