13 de maio de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Isto mesmo: ‘estou cansada de ser autista’. Não por mim ou pelo meu cérebro neurodivergente. É de tanto explicar, explicar e explicar como esse cérebro funciona. Todos os dias, um autista tem pelo menos 3 demandas para se explicar. Por exemplo, ‘o porquê quero assim; o porquê não dou conta disso (dessa maneira)’; o porquê pareço falar como se o mundo estivesse caindo sobre mim’.

Não é sobre você, é sobre mim

Confesso que, do alto de meus 58 anos, tenho algumas ferramentas decisivas que me apontam que devo continuar na luta. A principal é minha fé. Minha filosofia de vida que é clara ao colocar a responsabilidade em minhas mãos. Logo, queria dizer à toda sociedade, que não quero e não transfiro a solução de minha vida para o outro. Por isso, estou aqui e agora, com você!

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Entretanto, saibam. EU SOU DIFERENTE, para possibilitar que eu alcance e otimize meus resultados, preciso de um percurso, igualmente diferente. Diferente do quê? Do senso comum. E como a gente vence o estabelecido (status quo), o senso comum? Com informação de qualidade, confiável, de fonte (ou fontes) segura. Uau!!! Exatamente o que eu e Sophia fazemos desde 2015. Então está ótimo? Não, está péssimo. E você vai saber agora por quê.

A força do coletivo ou a realidade do ‘Estou cansada de ser autista’

Todos amam adultos autistas que se formam em áreas da saúde, da educação, da comunicação. São o reforço necessário à mudança da cultura sobre neurodiversidade. Mas, não pode parar aí, no ‘reforço necessário’. Amo ditados populares. Eu não os entendia e sempre pedia a um adulto para me explicar. Era um imenso prazer descobrir o que eles significavam. Pois então, ‘uma andorinha só, não faz verão.’ Um autista adulto aqui, outro ali, não significa que a inclusão exista e que seja efetiva. A força da mudança só acontece quando o coletivo está envolvido de forma consciente.

Aos pessimistas de plantão: sim, é possível incluir

Antes que a turma pessimista diga, ‘já avançamos muito, não dá para ter tudo…’ Dá sim. Eu não recebi meu diagnóstico e construí minha carreira sem saber que estava dentro do TEA. Foram 32 anos de MUITO sofrimento e conquistas. Certamente, esse é o caminho que me levou à frase: “Estou cansada de ser autista.”

Daria para ser anos de muitos desafios e vitórias, somente. Mas consegui. Por quê? Como? Ora, eu dei à sociedade o produto de minha expertise. Em contrapartida, conquistei minha autonomia. Mas não houve partilha de meu esforço sobre-humano para dar conta de tudo que era característica de meu cérebro neurodivergente.

Aliás, algumas vezes, depois de muito sofrimento, eu percebia que NÃO DARIA CONTA SOZINHA e abandonava projetos. Perdia eu e perdia a sociedade. Mas sozinha não dava. Entretanto, não faltavam rótulos. Ela sempre desiste. E demora a resolver. Além disso, é indecisa quando tem de escolher. Isso, sim, me cansa cada dia mais.

Contudo, hoje, estamos avançando. Mas… exigimos que avance mais. Não é sonho. O G1 trouxe hoje a reportagem: Empresas brasileiras assumem compromisso com a neurodiversidade.

Dia a dia de pessoas atípicas: muita cobrança, rótulos e julgamentos cansa!

Sou uma profissional reconhecida em minha área, tenho 4 livros escritos, invisto e trabalho muito no Mundo Autista (Canal no YouTubesite e blog, palestras, redes sociais) e, ainda assim, fico paralisada diante de algumas demandas corriqueiras. E meu estresse aumenta muito mais quando tento explicar o meu comportamento. Só aí as pessoas conseguem agir de forma a facilitar a inclusão. Assim, me esbarro na segunda barreira: a pessoa passa a me olhar com cara de ‘coitadinha’, ‘vamos resolver pra você.’ Puro capacitismo. Não preciso que ninguém resolva nada por mim. Para que não me sinta cansada de ser autista, só preciso que entendam sobre o que eu preciso. Dessa forma, eu garanto, todos vão se surpreender com o retorno obtido.

Na matéria do G1, já citada acima, há uma pergunta sobre autistas e outras pessoas neurodiversas que conseguem emprego e mais. Elas conseguem permanecer no trabalho. Confira a resposta:

“Porque elas se sentem acolhidas nas suas necessidades. Se eu tiver uma situação que eu estou muito ansioso e preciso fazer uma pausa um pouco mais alongada, meu chefe vai entender isso. E tudo bem, né? É muito legal ter pessoas neurodiversas dentro da sua equipe, porque você vai ter uma equipe mais colaborativa, você vai ter uma empresa mais humanizada e você pode ter excelentes resultados com isso”. (Marcelo Vitoriano, diretor geral da Specialisterne)

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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