30 de novembro de 2024

Tempo de Leitura: 4 minutos

Pessoas com deficiência costumam enfrentar um desafio duplo: lidam com as limitações de sua condição e, muitas vezes, também com o preconceito e a invisibilidade que a sociedade lhes impõe.

Há pouco mais de onze anos, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, um grupo de pessoas começou a se mobilizar para alterar essa realidade por meio de um poderoso instrumento: a cultura. Em comum, essas pessoas acreditavam que a participação de pessoas com deficiência na sociedade não é um privilégio, mas um direito. Para garantir a inclusão desses cidadãos, arregaçaram as mangas.

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Oficinas de teatro foram organizadas para atender os alunos da APAE local, criando espaço para que eles mostrassem suas potencialidades aos familiares e à comunidade. A assistente social Márcia Miranda, uma das idealizadoras do Coletivo Inclusão, lembra que as oficinas de teatro rapidamente transformaram a rotina na APAE de Fazenda Rio Grande. “O dia mais esperado da semana passou a ser a quinta-feira, dia da aula de teatro. Os familiares ficavam emocionados ao testemunhar a transformação dos alunos. Aos poucos, os profissionais que trabalhavam com eles começaram a relatar melhorias terapêuticas e de aprendizado”, conta Márcia.

A iniciativa gerou duas necessidades imediatas: buscar qualificação para a equipe, por meio de cursos e treinamentos mais especializados, e captar recursos para continuar e ampliar os atendimentos.

O primeiro projeto aprovado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura do Governo Federal foi publicado no Diário Oficial da União em 27 de novembro de 2013. A semente havia germinado, e começava a construção de uma rede potente de apoiadores, formada por indivíduos e empresas comprometidos com a inclusão de pessoas com deficiência. Em junho de 2017, o Coletivo Inclusão foi constituído legalmente como uma associação sem fins lucrativos.

As oficinas cresceram em variedade de temáticas e locais de atendimento. Às aulas de teatro somaram-se ballet, pintura, coral, musicalização e introdução ao esporte, com capoeira, judô e um pioneiro projeto de equoterapia. Atualmente, nas APAEs de Curitiba, São José dos Pinhais, Mandirituba, Fazenda Rio Grande, Paranaguá (PR), Passo Fundo (RS), Capivari de Baixo (SC) e Leme (SP), 1.500 pessoas são atendidas semanalmente.

O Centro de Referência em Equoterapia funciona em parceria com o Jockey Club de Fazenda Rio Grande, com o patrocínio da iniciativa privada, atendendo 80 pessoas por semana. “Essa atividade exige a participação do corpo inteiro. Por isso, contribui para a força muscular, o relaxamento, a coordenação motora e o equilíbrio. Ela usa o movimento do cavalo como terapia e, a partir dessa vivência com o animal e a equipe multidisciplinar, promove um desenvolvimento global na pessoa que realiza a terapia. Os ganhos são observados no âmbito escolar, familiar e em outros ambientes em que ela está inserida”, explica Caroline Rossi, responsável pelo projeto de equoterapia e gestora do Coletivo Inclusão.

Paradesporto

Em agosto de 2023, o Coletivo Inclusão iniciou uma nova frente de atuação: o basquete em cadeira de rodas. O projeto é realizado em parceria com a Secretaria de Esporte de Fazenda Rio Grande, que cede o Ginásio Poliesportivo Veneza para as aulas, um funcionário responsável pela coordenação técnica e cadeiras de rodas. Jhon Henrique de Paula Oliveira, jovem atleta paraplégico, conduz as atividades e inspira os alunos nas duas aulas semanais. A intenção é formar um time que represente o município de Fazenda Rio Grande em competições.

Com o ingresso do Coletivo Inclusão no programa Proesporte – Lei de Incentivo ao Esporte do Governo do Estado –, outras modalidades serão oferecidas em breve para jovens com deficiência.

Reencantando a vida

Infelizmente, deficiência e vulnerabilidade social muitas vezes caminham juntas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 80% das pessoas com deficiência vivem em regiões empobrecidas do planeta. Pensando nisso, o Coletivo Inclusão também oferece atividades assistenciais de saúde mental e geração de renda, por meio do projeto Reencantando a Vida, destinado às mães atípicas. “Buscamos proporcionar às famílias, especialmente às mães, que muitas vezes são as responsáveis pela casa, uma oportunidade de reencantar-se com a vida. Por isso o nome do projeto. Queremos oferecer apoio emocional e a descoberta de seus próprios talentos, tornando-as mais fortes, autônomas e empoderadas”, afirma o assistente social André Rigoni Caminski, gestor do Coletivo.

Rede colaborativa

O Coletivo Inclusão trabalha em estreita colaboração com organizações parceiras que compartilham ideais semelhantes, seja por meio de mecanismos de renúncia fiscal, seja pelo apoio direto de pessoas físicas e jurídicas. Também é beneficiário do Programa Nota Paraná, no qual as pessoas físicas podem doar notas fiscais sem CPF para instituições sociais.

A rede de apoiadores tem viabilizado o crescimento sustentável dos atendimentos e a formulação de novos projetos, como o Festival da Inclusão, cuja terceira edição foi realizada em maio de 2024, com enorme sucesso.

Atualmente, o Coletivo Inclusão atua em treze instituições no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, com o suporte de cerca de 50 colaboradores. A organização encerrou 2023 com 40 mil atendimentos no ano.

Para Ana Paula Pelanda, diretora do Grupo Pelanda, patrocinador do Centro de Referência em Equoterapia e do projeto Reencantando a Vida, a parceria de mais de três anos com o Coletivo Inclusão estabeleceu uma relação de confiança e admiração. “Ficamos encantados com a maneira única com que o Coletivo trata as crianças com deficiência. Isso toca muito o nosso coração e só fortaleceu a nossa parceria. É uma instituição séria, que visa o bem-estar das crianças carentes e com deficiência. Confiamos muito no trabalho deles”, afirma.

Empregabilidade

Mais do que números, o Coletivo Inclusão promove uma verdadeira revolução onde atua, mudando vidas e expectativas. Um exemplo é Luiz Fernando Glovatiski Pereira Lacovicz, jovem com deficiência intelectual moderada. Após participar de diversas atividades, ele foi convidado a colaborar como repórter remunerado do Coletivo. Luiz já faz planos para ser jornalista, destacando que a inclusão transformou sua vida.

A presença de Luiz como colaborador é prova da capacidade de superação e da força de vontade de pessoas com deficiência dispostas a ingressar no mercado de trabalho. Em 2024, o Coletivo Inclusão criou um grupo de trabalho exclusivo para conscientizar e formar empresas interessadas em incluir pessoas com deficiência em seus quadros.

Saiba mais
coletivoinclusao.org.br
@coletivoinclusao
facebook.com/coletivoinclusao

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