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O acompanhamento oftalmológico é essencial para todas as crianças, mas assume um papel ainda mais crucial naquelas com deficiência intelectual ou autismo, como na Síndrome do X Frágil. Muitas dessas pessoas, especialmente as não oralizadas, podem apresentar dificuldades visuais que nem sempre são percebidas pelos pais ou cuidadores. A oftalmologista Ana Tereza Ramos Moreira enfatiza a necessidade de exames regulares para garantir o desenvolvimento visual adequado e a melhora na qualidade de vida desses pacientes.
Segundo a especialista, algumas crianças com deficiência intelectual podem não demonstrar sinais de problemas oculares nos primeiros meses de vida. No entanto, a partir do primeiro ano, é possível observar sintomas como desvio ocular (estrabismo), que pode indicar um problema refrativo, exigindo o uso de óculos corretivos. Outras manifestações incluem coçar frequentemente os olhos, aproximar-se demasiadamente da televisão ou apresentar vermelhidão ocular persistente. “Muitas vezes, a criança coça os olhos não por alergia, mas porque está tentando desembaçar a visão”, explica a médica. Isso reforça a importância de levar a criança ao oftalmologista caso haja qualquer suspeita de dificuldades visuais.
Um exemplo claro da relevância do acompanhamento oftalmológico é a história de Jorge, meu filho. Jorge, diagnosticado com Síndrome do X Frágil e Autismo, enfrentou desafios visuais desde os primeiros meses de vida. Desde pequeno, apresentava estrabismo, que se acentuou com o tempo. Percebi sinais como assistir à televisão de muito perto e com inquietação, o que me levou a buscar ajuda especializada.
No primeiro exame, os médicos indicaram que não havia nada de anormal, mas persisti em buscar por respostas. Aos dois anos, um novo especialista identificou hipermetropia de 5,5 graus e estrabismo acomodativo, mas a dificuldade de realização dos testes comprometia a precisão do diagnóstico. Somente com a intervenção da oftalmopediatra, Dra. Ana Tereza Moreira e exames realizados sob anestesia foi confirmado um grau ainda mais alto de hipermetropia, de 8 graus.
A adesão aos óculos foi imediata. Jorge passou a dormir, brincar e tomar banho com eles, evidenciando o impacto positivo do acessório na sua qualidade de vida. O tratamento incluiu terapia visual para estimular o desenvolvimento da visão e, com o tempo, seu grau reduziu para 3. Apesar das melhorias, o uso dos óculos segue essencial.
Durante a pandemia, Jorge enfrentou um novo desafio: após contrair Covid-19, seu estrabismo se intensificou, possivelmente devido a um impacto do vírus no nervo óptico. Como a opção cirúrgica não era viável devido às dificuldades do pós-operatório, os óculos continuaram sendo a melhor solução. Hoje, Jorge escolhe suas próprias armações, demonstrando autonomia e personalidade.
A história de Jorge reforça a importância da atenção aos sinais visuais e da insistência dos pais na busca por um diagnóstico preciso. O acompanhamento oftalmológico regular é essencial para garantir que crianças com deficiência intelectual tenham a oportunidade de enxergar o mundo com clareza e segurança. O SUS oferece essa consulta para todas as crianças no Brasil, permitindo a detecção precoce e o tratamento adequado de possíveis problemas oculares, contribuindo significativamente para seu desenvolvimento e qualidade de vida, informe-se em sua unidade de saúde.