1 de março de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Quando eu era criança, meu pai gostava de me fazer perguntas sem sentido. Eram charadas que, aparentemente, tinham respostas óbvias. Uma das preferidas dele era: “O que pesa mais, um quilo de chumbo ou um quilo de pluma?” Entediada, respondia rapidamente que ambos tinham um quilo, tinham o mesmo peso.

Contrariando muitos que dizem que o meu autismo é bem leve, eu o sinto pesar em meus ombros todos os dias. Com o apoio do meu marido, Antonio, e de pessoas maravilhosas que me cercam, tenho conseguido superar os desafios do dia a dia. E o texto de hoje é um relato de um desses momentos de superação.

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Um dos meus maiores medos é ter uma crise sozinha em um lugar desconhecido, mais ainda se for um local público. Fico pensando em quantas pessoas vão passar, olhar, sentir pena, talvez filmar, talvez achar graça “olha a doida!”. Será que vão me internar em hospital psiquiátrico? Apesar de não ter tanta hipersensibilidade, um dos lugares que mais me causa esse medo e uma grande ansiedade é o aeroporto. É muita gente, você tem que procurar seu portão, e te trocam de portão, e você tem que correr, não pode se atrasar, e o pior de tudo: você fica preso no avião. Não há como pedir pra parar porque você quer descer. Não tem uma salinha pra você se trancar e esperar a crise passar longe da vista dos curiosos, o vôo só acaba quando chega ao destino, na hora programada.

Mas, como escrevi acima, esse é um relato de superação! Nas minhas últimas férias, eu viajei sozinha! Saí da minha cidade, deixei meu marido e meu cachorrinho, e fui passar seis dias em Brasília. Aproveitei para conhecer a Érica, fundadora da Liga, que só conhecia por meio virtual, e a Débora, que também conhecia de grupos, da época que eu não tinha diagnóstico de TEA e transitava pelos grupos de TDAH.

E eu consegui! Peguei o avião, me hospedei no hotel, fiz turismo pela cidade, conheci as duas amigas (que agora não são mais só amigas virtuais), fiz massagem pela primeira vez (e detestei!). Senti medo várias vezes, não soube o que fazer algumas vezes, acabei ficando mais do que gostaria no quarto de hotel, tive crise pela sobrecarga de coisas novas, mas no fim deu tudo certo e voltei ainda mais confiante, acreditando ainda mais na minha capacidade.

Tudo bem que minha atual condição me proporcionou regalias, como escolher um assento mais confortável do avião, poder esperar o vôo em um lugar mais calmo, ter acesso a um hotel tranquilo e bem localizado, poder contratar carro por aplicativo pra me deslocar, além de que as duas amigas me ajudaram, embora não podendo estar muito presentes comigo. Mas, nada disso diminuiu, nem um pouco, o orgulho que eu senti de mim mesma.

Eu venci! Fui com medo e voltei com orgulho! Para alguns que estejam lendo pode parecer uma conquista tão boba, mas pra mim, não há palavras pra descrever o quão significativo isso foi.

A mensagem que deixo para quem chegou até aqui é: não duvidem um dia sequer de sua capacidade. Sim, é assustador! Mas você pode fazer, com planejamento, com apoio. Com o suporte adequado, o autista pode ir aonde ele quiser!

Kamilla Brandão é membro da Liga dos Autistas, ux designer, empresária, medalhista estadual de tiro esportivo, pretensa escritora, aficionada de qualquer coisa que consiga prender sua atenção.

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