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Em dezembro do ano passado, o Pinterest lançou o “dopamine dressing”, para 2022. Era o anúncio de uma espécie de terapia da moda. A nova vibe seria criada por muito glitter, maximalismo, roupas e acessórios coloridos. E assim foi.
Mas, depois do apelo estético, atribuído à dopamina, a tendência trouxe, também, uma nova ética. Ou seja, criou disposição dos mais jovens, a geração Z, diante dos desafios apresentados pela vida. Como?
Antropólogo faz alerta sobre a geração Z
Assisti a uma palestra de Michel Alcoforado, PhD em antropologia do consumo, no evento Youpix Summit. Ele explicou que realizou pesquisa com jovens da geração Z. Assim, pode perceber o impacto desse neurotransmissor nas relações pessoais, nas ambições e desejos dessa geração.
Eles abandonaram o desejo de felicidade trazida pela serotonina, e investiram na dopamina, responsável pela sensação de prazer, de bem-estar. Mas esse é um prazer diferente daquele da serotonina. Esse está mais ligado com o ciclo de recompensa. Por exemplo, como alcançar um objetivo e ter aquela sensação boa de conquista.
Desse modo, Michel explicou que as marcas se valem disso para fortalecer seus vínculos com os consumidores. Por exemplo, o TikTok e seu algoritmo em um quarto de minuto oferece uma carga grande da sensação de prazer. Dessa forma, essa rede social entretém o jovem. Além disso, ele se sente no centro do mundo e não sente que perde um tempo precioso.
A morte dos neurotransmissores da empatia
Acontece que esse excesso de estímulo à produção de dopamina tem como resultado a apoptose. Ou seja, uma espécie de suicídio coletivo de nossos neurônios. Assim, diante dos excessos, os neurônios entram em um ciclo de atrofia, metamorfose e morrem. Fato causado pela cultura e comportamento da juventude.
No entanto, para além do papel importante na produção da molécula do prazer e da recompensa, esses neurônios se localizam no córtex pré-frontal — região “mais evoluída do cérebro” — zona responsável pelas relações sociais, da empatia, do auto controle e dos vínculos com os outros.
A pesquisadora e psiquiatra da Universidade de Stanford, Anna Lembke, em seu livro “Nação Dopamina”, mostra que a incessante busca por felicidade e realização aliada a uma completa incapacidade de lidar com o tédio e frustração tem levado a humanidade a se jogar de cabeça numa série de práticas e comportamentos viciantes.
Além disso, Anna Lembke mostra que o consumo excessivo de comida, bebida e das mais diversas anfetaminas, assim como a fixação por compras de bugigangas baratas nos sites chineses, o desespero por likes e pela repetição de passinhos alucinados do TikTok são caminhos fáceis para acelerar o trabalho dos neurônios dopaminérgicos.
E então, há esperança?
Afinal, como corresponder ao mandamento de fazer, fazer, fazer se a crença é de que tudo já foi feito? Como realizar um grande projeto, a altura desse indivíduo que se crê um gigante, se o mundo muda com a velocidade dos ventos? Como podemos nos sentir realizados, satisfeitos, plenos, quando na realidade nos vemos falhos, com síndrome de impostor e sempre distantes do ideal esperado para uma boa performance?
Então, para suportar a barra que é viver em um contexto cultural marcado por tantos dilemas, o jovem busca outras saídas. A mais fácil tem sido apostar no aumento da produção de dopamina no sangue. Dessa maneira, o jovem consegue, também, a sensação de que conquistou algo. Mas ele quer mais e consome mais dopamina, vinda inclusive das redes sociais. E com a morte dos neurônios da empatia, da interação social, o que resta é alguém violento, sofrido, improdutivo, impulsivo e apático.
A esperança, entretanto, reside na administração da dopamina na dose certa, precisa! Temos de reaprender a contar histórias nas redes sociais. Precisamos de boas histórias que nos emocione. A conexão entre as pessoas, aliás, acontece pela via da emoção. Vamos, no presente, criar perspectivas da vida. Só assim, poderemos garantir um futuro melhor. Vem comigo!