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Este ano, finalmente lidamos com o início da vacinação contra a Covid-19. Mas, apesar de as pessoas autistas fazerem parte do grupo prioritário, alguns de nós — diagnosticados por profissionais, vale reforçar — tiveram sua dose recusada nos postos de saúde. Muitos ficaram confusos: afinal, a chancela do diagnóstico a partir de um laudo não é o suficiente?
É importante não ter a falsa sensação de que um pedaço de papel, que muitas vezes chamamos de “laudo”, vai ser a chave para todos os nossos problemas ao longo da vida, como tendemos a pensar. Não só porque é impossível resumir todo um histórico de vida em linhas de um papel, mas pelo fato do diagnóstico fechado não ser um ponto final na trajetória com o autismo.
Idealmente, como pessoas com deficiência, entendo que precisamos ter um acompanhamento profissional, seja de um médico, um psicólogo — assim como existe a figura do “advogado da família”. Esse profissional pode emitir laudos, pode entrar em contato e pode ajudar a resolver situações urgentes no dia a dia. Acredito que isso ainda seja pouco compreendido e difundido na comunidade do autismo.
Frequentemente, eu vejo autistas solicitando laudos para o seu médico e o médico pergunta o motivo da solicitação. Em seguida, os autistas pensam que talvez seria uma resistência por parte do médico, mas na verdade não é. Muitas vezes, o que acontece é que o médico vai emitir documentos a partir das demandas que forem surgindo ao longo da vida da pessoa autista.
Eu, por exemplo, tenho vários atestados, e cada um foi escrito e emitido especificamente para uma situação determinada. Então, por exemplo, eu fui me vacinar e tinha um atestado para essa situação. E, inclusive, o documento dizia claramente que a pessoa poderia entrar em contato com a profissional que me acompanhava, caso fosse necessário. Nesse sentido, não é um único laudo em si que trará toda a segurança para a pessoa autista, mas sim o suporte de um profissional de confiança.
No entanto, também sabemos que muitos autistas não conseguem manter o acompanhamento com os profissionais que os diagnosticaram por conta dos preços das consultas. Vivemos em um país marcado por desigualdades e isso não pode ser ignorado. Por isso, precisamos de políticas públicas para garantir que pessoas autistas, independentemente da idade e do poder aquisitivo, possam sempre ter um profissional que as acompanhe.