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Perceba como entre mãe e filha autistas, a história se repete! Quando eu era criança, meu humor ia de 8 a 80 num átimo de segundo. Levantava e me alegrava com a linda manhã. Tomava café e meu estômago dava voltas. O cheiro do pão na chapa, com margarina era muito ruim. Mais tarde, percebi que a manteiga não me causava enjoo. Pronto, estragou tudo. Às vezes, eu vomitava, escovava os dentes e me aprontava para a aula.
O turno da manhã era horrível. Afinal, eu me deitava cedo e só dormia duas, três horas depois. Em dias de sufoco é assim, até hoje. Mas aprender era muito bom. Enquanto as aulas seguiam a rotina de professora entusiasmada e alunos tranquilos, era perfeito. Mas se algo saía do previsto, lá vinha o monstro do mau humor. Eu me continha tanto que, ao chegar em casa, era briga na certa. Anos depois, eis a cena se repetindo com minha filha.
Mãe e filha autistas
Perdi as contas das vezes em que me estressei com minha mãe. Sentia uma raiva tão profunda que me assustava. Isso porque, muitas vezes, parecia que ela só complicava as coisas para mim. Não conseguia me entender. E nem queria. Quando me acalmava, eu tentava entender o lado daquela mulher batalhadora. Mãe solo de três filhas. Era uma luta constante. Trabalhar, estudar, ser responsável pela casa. Pronto! Bastavam esses pensamentos para eu me sentir a pior pessoa no mundo.
Vivia assim: emoções fortes, que pareciam sair pela boca. Emoções partidas, duais. Ora, era a pessoa mais feliz do mundo. Em seguida, só queria morrer. Desse modo, estava constantemente exausta, com esse sentir que me levava a emoções que sequer hoje, eu consigo entender.
Portanto, ver esse roteiro desempenhado hoje, por Sophia, me impacta duplamente. Por mim e por ela. É um aperto no coração. Gostaria que ela entendesse que a intensidade de nossas emoções, não podem nos afastar do que sentimento inicial. Mas como pedir isso, se eu mesma levei anos para entender. Ou melhor, ainda tento entender tanta coisa, até hoje.
Pensar e sentir, a história se repete
Criança é levada pela emoção que os sentimentos causam. Não têm habilidades para saber o que ela sente e o que pensa. Embora, geralmente as mulheres amadureçam mais cedo, isso não acontece com a mulher autista, em todos os setores de sua vida.
Por isso, adotei a estratégia de me questionar sempre. Isso é legítimo? O que eu sinto? Por que estou agindo assim? Por muito tempo, foi assim com a Sophia também. Mas agora ela é adulta. Pode traçar suas próprias estratégias. Mas, ela me solicita, como se quisesse resgatar a mãe que sempre organiza as situações para que ela entenda. Mas não temos esse poder eternamente. E nem devemos ter. Há que haver um afastamento pelo bem de mãe e filha. Caso contrário, lá vamos nós: mãe e filha autistas a história se repete.
A psicologia evita a história que se repete
Minha psicóloga, Andressa Antunes, me ajuda a perceber que, na convivência entre mãe e filha, o que afeta nossa pequena comunidade familiar, deve ter regras claras. Já o que é meu, é só meu. Pois só eu posso controlar. O que é de minha filha, por mais que eu queira cooperar, é só dela. Ela já é adulta e só ela pode controlar suas emoções. Portanto, se eu percebo que estou indo por esse caminho, pulo fora. É para não ficar fora de mim (risos). Duas autistas desreguladas, juntas, perdem todo e qualquer controle. Mesmo na fase adulta.
Conclusão: Mãe e filha autistas, a história não precisa se repetir
Entendi que eu e Sophia espelhamos nossos sentimentos por meio de emoções, com lente de aumento. Então, agir nessa hora é imprudente. Afinal, aquela ‘emocãozona’ não espelha o que, de fato, estou sentindo, em sua totalidade. Certamente, não devo me anular, também, para que tudo flua. Afinal, a regra é a mesma que existe no trânsito.