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Por Ana Amélia Cardoso
Um aspecto essencial a se discutir em um país tão diverso como o Brasil é a caracterização sociodemográfica das pessoas autistas. Os resultados do MAB apontam que, no estudo realizado no Distrito Federal, das 1.699 respostas obtidas, a maior parte das pessoas (999 pessoas = 58,8%) recebeu o diagnóstico na rede particular de saúde e 316 (18,6%) no plano de saúde. Apenas 363 pessoas (21,37%) receberam o diagnóstico na rede pública, o que é preocupante, uma vez que essa é a única possibilidade para a maior parte da população brasileira, que depende exclusivamente do SUS. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, mais de 150 milhões de brasileiros, ou seja, sete em cada dez, dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamentos de saúde (Sousa, 2023). Esses dados são alarmantes, pois sugerem que muitos autistas provavelmente não recebem o diagnóstico e o tratamento adequado no Brasil, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social e econômica.
Quando se trata de diagnóstico tardio do autismo, ou seja, diagnóstico realizado na vida adulta, os números são ainda mais expressivos. De 253 pessoas que receberam o diagnóstico após os 20 anos de idade, 204 (80,63%) receberam o diagnóstico de um médico particular, e apenas 13 (5,14%) na rede pública de saúde, o que pode sugerir que médicos da rede pública talvez não consigam se manter suficientemente atualizados para realizar o diagnóstico em adultos, ou que os adultos com características de TEA muitas vezes têm suas autopercepções invalidadas na rede pública e acabam recorrendo ao serviço privado.
Ao serem questionadas sobre acesso a terapias, 1.277 pessoas responderam. Entre essas pessoas, apenas 75 (5,87%) realizam terapias no serviço público de saúde. A grande maioria das pessoas (660 = 51,68%) gasta, mensalmente, de R$ 500,00 a R$ 3.000,00. Considerando que o IBGE estima que a renda média mensal do povo brasileiro era de R$ 2.979,00 em 2023 (IBGE, 2024), observa-se que os custos com terapia são elevados para grande parte da população. É preocupante que apenas 5,87% das pessoas tenham acesso às terapias pelo SUS, o que sugere a necessidade de mais políticas públicas e capacitação das equipes para prestar atendimentos a pessoas com TEA.
É importante enfatizar, ainda, que a coleta de dados aconteceu por meio eletrônico, e os dados podem refletir o perfil da população que conseguiu participar do estudo, pois era necessário ter acesso a um aparelho (computador, tablet, smartphone, etc.) conectado à internet. É importante, portanto, ampliar a amostra e tentar incluir pessoas em situação de vulnerabilidade.
Referências:
IBGE (2024) PNAD Contínua.
Sousa, M. (2023) Três décadas da criação do SUS – A maior política de inclusão social do Brasil. Comissão de Comunicação IPTSP, Universidade Federal de Goiás.
Ana Amélia Cardoso é autista com diagnóstico tardio, terapeuta ocupacional, Mestre e Doutora em Ciências da Reabilitação, Docente e pesquisadora na UFMG, Coordenadora do PRAIA – Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo, Pesquisadora do Mapa Autismo Brasil. Atende crianças, adolescentes e adultos autistas, visando o máximo de independência e autonomia em sua vida diária.