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Durante a descoberta do maternar atipico percebi um grande sofrimento do filho, que é intenso e intransferível. Porém, lidar com essa maternidade faz a mãe sofrer também. Quis relatar essa percepção, mas sem transformá-la em uma fonte de reclamação. Após conversar com outras mães, eu e a Sophia decidimos criar uma personagem que refletisse a experiência de muitas mães, mas sem evocar uma queda de braço entre mães e filhos, nem expor um lado nem outro.
A ideia de transformar essas vivências maternas em uma personagem veio da minha filha Sophia. Ela, que é doutoranda em Literatura, me orientou a escrever com inspiração em técnicas de autoficção. Além, é claro, de participar da redação do livro Tabus sobre a maternidade atípica e a identidade de gênero.
Livro polêmico aborda maternidade atípica
Assim, este é um livro para toda q famìlia atípica que, acredito que como a minha, pode transformar o veneno em remédio. Ou seja, jogar luz nas habilidades e não nas limitações. Além dela, educadores e profissionais da saúde também podem se beneficiar da obra.
O mais difícil nesse processo foi entender que o livro não é uma descrição exata de minha experiência. Afinal, Tabus sobre a maternidade atípica e a Identidade de Gênero representa outras mães por meio da fala de Antonella, que é a protagonista da obra.
Daí, eu percebi que não existe uma vida que transcorra de forma linear. E talvez essa seja a melhor experiência da nossa trajetória. Isso quer dizer que, quando você aprende sobre um assunto, a vida embaralha e rodopia. Dessa forma, ela nos apresenta uma outra realidade. Nessa hora, é quando observamos a força do ser humano e a diferença da esperança.
Tabus sobre a maternidade atípica e a Identidade de Gênero
Além disso, eu gostaria que os leitores percebessem que não existe fórmula para viver a vida ou o dito destino. O que existe é o encontro de vários desafios. E é fundamental percebê-los como oportunidades de fortalecimento para sair mais feliz do outro lado. Então, nenhum diagnóstico deveria se confoundir com a vida do ser humano, de modo a traçar um destino determinista, no qual se conforma com a realidade, sem imaginar que somos nós que construímos o nosso futuro.
Em vários momentos, ser autista me ajudou a entender comportamentos de minha filha. Porém, quando a interação envolve sentimentos e emoções, é horrível ter uma crise e ser um gatilho que leva a filha a ter uma crise também. Depois da crise a gente se sente envergonhada, com o desejo de ter agido melhor naquele momento. O que é inevitável, mesmo no maternar.
A essência camaleônica de autistas
Este também é mais um dos nossos livros em que se percebe a essência camaleônica das pessoas autistas, que vem desde a infância. Além disso, Tabus sobre a maternidade atípica e a identidade de gênero mostra que, apesar do sofrimento parecer não ter fim, é possível construir uma nova história.
Assim, o livro acompanha o cotidiano de pessoas neurodivergentes convivendo entre si. E com toda a riqueza e o sofrimento que advém desse relacionamento. Então, não pretendemos dourar a pílula. Mas, tivemos cuidado com as palavras. Isso para evitar que elas se tornem gatilhos para uma crise.
Mãe de autista
A mãe já parece nascer com culpa. Já na adolescência, é comum que ao filho culpe a mãe por vários problemas. O acúmulo de sentimentos que nasce daí podem gerar depressão, ideias suicidas e isolamento, dentre outras questões.
Mas, sempre há esperança. Porém, depende de cada um encontrá-la. O que aprendi nessa caminhada é que lamentação apaga boa sorte e te leva ao vitimismo. Quando você sente pena de si, é dificil encontrar solução para qualquer que seja o desafio. Nessa situação, a tendência é você ficar impotente e não sair do lugar. Isso te paralisa. Portanto, a esperança requer coragem e que a gente jogue luz nas potencialidades e não em aspectos limitantes.