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A ideia de autismo como um espectro vem sendo construída através de décadas, desde o início dos anos de 1980 com Lorna Wing, até chegarmos em 2013 com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais nos EUA em sua quinta versão, o DSM-5; e agora mais recentemente com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, o CID 11 que entrará em vigor em primeiro de janeiro de 2022.
A partir e em consequência disso, atualmente a denominação oficial para essa condição é Transtorno do Espectro Autista (TEA). E hoje quero focar exatamente nessa segunda palavrinha, “espectro”.
Analisando esses manuais diagnósticos, o CID e o DSM, nessas versões que citei, temos já muito bem definidos quais são os critérios para que o indivíduo se enquadre dentro desse espectro. Esses critérios são dados em duas áreas principalmente, os déficits de comunicação social (que envolve socialização e comunicação verbal e não verbal) e na questão de comportamento (abrangendo os interesses mais restritivos do indivíduo e comportamentos repetitivos).
Nesse sentido, com esses pontos muito bem definidos e também com mais profissionais qualificados para identificar essas características na pessoa, também estamos vendo um maior número de diagnósticos. Porém, é importante salientar que não estamos tendo um surto de autismo no mundo, apenas estão sendo identificado casos que em outros tempos talvez tivessem passado batidos ou até mesmo recebido outros diagnósticos equivocados.
Ainda nesse sentido, temos muitos relatos de pessoas sendo diagnosticadas já adultas que há 20 ou 30 anos não entravam nas estatísticas mas que eram pessoas autistas da mesma maneira, apenas sem um acompanhamento adequado.
Mas onde quero chegar com tudo isso? Voltando a atenção então para o “espectro”, o que quero salientar é que, mesmo com o avanço da informação e do conhecimento sobre a condição, é necessário muito cuidado das pessoas ao julgarem alguém que se apresenta como pessoa autista. Não é incomum que as pessoas façam afirmações baseadas nas suas percepções do que elas acham que é o autismo.
Os estereótipos ainda são muito fortes em nossa sociedade e se o que uma pessoa autista apresenta não bate com o que o senso comum traz sobre como um autista deve parecer, logo ouve-se a afirmação de que aquele cidadão não pode ser autista, afinal ele não tem esse ou aquele comportamento que “eu sei” que os autistas devem ter.
Ainda tem outras ocasiões onde alguém conhece uma pessoa autista e logo acha que todos os outros autistas tem que se parecer com aquela para que também possam ser autistas.
Por isso, ressalto hoje a necessidade do entendimento do conceito do que é esse espectro do autismo. Todos os seres que estão inseridos nessa condição irão apresentar os quesitos citados lá no princípio em torno da comunicação e comportamento, mas a partir daí, como cada um vai apresentar e vivenciar essas dificuldades do seu desenvolvimento vai depender de fatores individuais, portanto, de maneira diferente para cada um.
A interação de cada um com o meio não depende apenas do indivíduo em si, mas também do meio em que está inserido. As abordagens terapêuticas a que foi submetido, as ajudas que recebeu, as manobras de equidade e inclusão a que foi exposto, tudo isso vai refletir em como aquele ser se manifesta diante da sociedade. E não é por isso que alguém será mais ou menos autista.
Talvez possa ser por isso que você perceba mais ou menos o autismo naquele indivíduo, também pode ser que seja o seu desconhecimento acerca da condição que faça ter essa falsa percepção. Seja qual for o motivo, evite julgar para não correr o risco de falar besteira sem nem mesmo poder embasar sua opinião se for indagado com uma simples interrogação: o quanto você conhece sobre o TEA ou sobre a pessoa para afirmar se ela parece autista ou não?