10 de outubro de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

É comum que, ao se deparar com o diagnóstico de autismo, os pais fiquem ansiosos para saber qual o grau de autismo do filho.

Também não é incomum que pessoas leigas usem essa diferenciação em graus para se referir à pessoas autistas. Aposto que muitos dos que estão lendo aqui, já ouviram a famigerada frase: “ah, mas é bem levinho, né?”, quando relataram o sua própria condição de autista ou a de seu filho.

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Então hoje, vamos falar sobre o que exatamente são esses graus de autismo e qual a importância disso diante dessa condição.

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), publicado pela associação Americana de psiquiatria, e utilizado como referência não apenas nos Estados Unidos como também em vários países, desde o ano de 2013, quando foi apresentada a sua versão de número 5, o autismo é classificado como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Na CID, que é a classificação utilizada aqui no Brasil, na sua versão de número 11 que será instaurada em primeiro de janeiro de 2022, também o autismo é colocado como espectro, deixando sua classificação mais semelhante ao DSM-V.

Apesar de algumas diferenças de classificação nos diversos manuais, tem algo em comum em ambos. Em nenhum deles, nem no CID nem tão pouco no DSM, existe o tal grau de autismo.

Como assim? Não tem lá escrito que existem 3 graus de Autismo? Leve, moderado e severo?

Pois é… Não tem!

Mas então de onde surgiu isso?

Aqui, há uma confusão do que significam os níveis dentro do TEA que somaram-se a popularização dos termos “leve”, “moderado” e “severo” quando se fala de autismo e que acaba causando essa bagunça e, por vezes, essa aflição nas pessoas de saber logo qual o grau de autismo de alguém.

Mas opa, pera lá. Eu acabei de dizer que não existe grau de autismo e agora eu mesmo estou dizendo que existem níveis dentro do TEA! Como é isso aí?

Vamos esclarecer isso então. De fato, não existem então graus de Autismo. Não existe ser mais autista ou menos autista, não tem autismo leve ou autismo pesado, não existe o autista moderado ou o meio autista.

A pessoa então ou é autista, ou não é! Ou ela está dentro do espectro do autismo, ou não está. E o espectro, como o próprio termo sugere, acomoda uma gama de diferentes pessoas, com características comuns que se apresentam em intensidades diferentes dentro dos quesitos que definem que aquela é uma pessoa autista, pois possui as dificuldades persistentes de comunicação, interação social e interesses restritos e comportamentos repetitivos que trazem prejuízo no seu desenvolvimento e que se manifestam conforme suas vivências.

Mas e os níveis que eu falei então, o que são?

Esses níveis não são o quanto uma pessoa é autista, ou quanto essa condição é mais ou menos difícil para a pessoa. Esses níveis são diferenciados pelo tanto de suporte que o indivíduo vai necessitar diante das características do TEA. Existem então 3 níveis de suporte, e não de autismo. O nível 1 necessita de apoio mas com menos suporte, o nível dois necessita de um suporte substancial e o nível 3 de muito apoio.

E aqui, novamente é importante ressaltar que não é o nível de suporte que vai dizer se aquela condição é mais fácil ou mais difícil para o indivíduo. Para exemplificar, pense que um autista de nível 3 que tem todo o suporte dentro de suas demandas suprido pode ter melhor qualidade de vida do que um de nível 2 ou nível 1, que não recebam os devidos apoios. Mesmo dois indivíduos dentro do mesmo nível de suporte podem ter dificuldades muito diferentes dependendo do que lhe é suprido em relação ao apoio que necessita.

Então, dito tudo isso, o que é mais importante para quem acaba de receber um diagnóstico ou para quem fica muito aflito em saber qual o graus de autismo da pessoa, não é rotular se o autismo é grave, moderado ou severo, mas sim saber que todo tratamento de autismo deve ser realizado baseado em demandas individualizadas e certificar-se de que a pessoa, seja seu filho ou filha, seja você mesmo, esteja recebendo as terapias e os apoios que suprem com suas características individuais.

Antes de finalizar, quero dizer que é importante sim definir os níveis de apoio de cada um para critérios técnicos e até legais por vezes. Mas isso pode ser feito depois, com calma, enquanto a pessoa já está recebendo o apoio que merece.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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