2 de janeiro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Receber o diagnóstico de autismo é algo bom? A resposta a esta pergunta depende da perspectiva. E justamente sobre as perspectivas existentes que quero falar hoje.

Os pais que já passaram por isso, principalmente os que receberam a notícia mais recentemente, provavelmente olham para essa pergunta e pensam como é difícil ouvir o diagnóstico de que seu filho ou filha está dentro do espectro do autismo.

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O diagnóstico é um momento de quebra. O filho tanto esperado fugiu do que foi idealizado. Um mundo de incertezas cai sobre a cabeça daqueles pais, e não é incomum o sentimento de perda. Mais do que isso, um sentimento de que estão perdidos diante de uma nova realidade desconhecida.

Percebam que aqui não cabe de imediato um julgamento sobre esse desconforto dos pais. Até seria mais fácil apenas julgar e colocar a lição de que os filhos não têm obrigação de suprirem as idealizações de seus genitores. E os que farão o papel de pais, ao decidirem gerar uma criança, deveriam estar preparados para qualquer condição de existência que toda a diversidade humana possui. Portanto, toda neurodiversidade deveria ser acolhida como dentro do esperado.

Porém, é um pouco mais complicado que isso. O fato é que essa idealização existe. Mas também é fato que apenas por existir não invalida o argumento de que é dever das próprias pessoas que criaram tal idealização terem que lidar com isso. Afinal, é assim que se pode acolher o filho real em detrimento do que foi projetado nas suas expectativas.

Seu filho é! Agora, no tempo presente. O que ele foi na sua imaginação fica pra trás. O que ele será vai depender muito de como você irá aceitar e apoiar. E o momento de aceitar e apoiar é agora. Qualquer tempo perdido pode influenciar no desenvolvimento da criança autista. E por isso digo, com certeza absoluta, que sempre o diagnóstico de autismo é algo bom!

As evidências científicas já nos trazem de maneira muito clara que o autismo é genético e que a pessoa nasce autista. Também nos mostram que a condição persiste por toda a vida. Então imaginar como seria se a pessoa não fosse autista é apenas uma conjectura sem sentido. Ao fantasiar o que seria o que não pode ser, novamente estaríamos colocando uma perspectiva do irreal.

E viver no irreal não leva ninguém à prosperidade. E acreditem, é possível ser próspero sendo autista, independentemente do nível de suporte em que a pessoa se encontre. Aliás, existe uma constante nos exemplos de prosperidade na maioria das histórias conhecidas que é a aceitação e o apoio das pessoas próximas.

Uma pessoa autista sem o diagnóstico continua sendo uma pessoa autista, apenas não com todo o suporte e garantia dos direitos devidos. Negar a condição ou não procurar ajuda não faz com que o autismo desapareça. Muitas vezes faz desaparecer a autoestima, o orgulho, a alegria, a compreensão de si, mas nunca o autismo.

Por esses motivos iniciei dizendo que o diagnóstico é bom ou ruim dependendo das perspectivas com que respondemos essa questão. Para evidenciar esse contraste, vejam as pessoas adultas que foram diagnosticadas tardiamente, incluindo eu mesmo nessa leva.

Eu, como a grande maioria, fiquei feliz com essa resposta. Como tal diagnóstico respondeu coisas do passado, ajudou a entender o presente. E também tornou possível um planejamento de futuro em que a pessoa se permite não enfrentar certos desafios por entender que muito do que passou na vida não era sua culpa. Na verdade, por conta de características suas não entendidas por si próprio e também pelos outros. Nessa interação com a sociedade, muitas vezes fizeram uma pessoa autista transgredir situações que poderiam ser amenizadas com manobras de inclusão e com terapias e tratamentos aos quais não foi exposta por não ter o diagnóstico.

E, ao reconhecer suas dificuldades e respeitá-las, pôde trabalhar melhor suas potencialidades. Pensem nas possibilidades de um diagnóstico que deixa pais e mães tristes estar propiciando a felicidade de seus filhos que não são o filho idealizado, mas que, com certeza, são o filho ideal para que vocês sejam os melhores pais que podem ser.

Perspectivas podem mudar. Não é fácil, não é instantâneo, mas só depende de como vocês querem encarar a realidade dos seus filhos ou de si mesmos!

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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