14 de outubro de 2024

Tempo de Leitura: 3 minutos

Por Luciana Rezende

O mês de outubro é internacionalmente reconhecido como o Mês da Conscientização sobre a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), instituído pela Comissão do Projeto LEAD da International Society for Augmentative and Alternative Communication (ISAAC).

Diante dessa informação, não poderíamos deixar passar em branco esse momento e deixar de referir-se à pesquisa do Mapa Autismo Brasil (MAB). Em seu estudo piloto no Distrito Federal com a população autista e seus cuidadores, um dos temas investigados foi justamente a comunicação da população autista, algo que sabemos ser um dos sinais de alerta e que apresenta dificuldades em seu desenvolvimento.

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O MAB levantou que 74,9% dos autistas que responderam ao questionário são “verbais”, enquanto 25,1% foram indicados como “não verbais”. Sobre essa temática, ainda não há um consenso científico, mas existem pesquisas e hipóteses que apontam fatores que podem influenciar o fato de um autista não desenvolver a fala “funcional”. Entre esses fatores estão a falta de modelos adequados, a não estimulação durante a rotina, a dificuldade em desenvolver habilidades pragmáticas (uso social da fala), e até mesmo a presença de algum fator orgânico que possa dificultar a compreensão e/ou expressão (Tager-Flusberg et al., 2005), o que pode variar de um indivíduo para outro. Há também estudos que mostram uma relação entre a capacidade cognitiva geral e o desenvolvimento da linguagem, bem como entre o nível de suporte e o comprometimento da linguagem (Thurm et al., 2015).

Na literatura, ainda se encontra o termo “não verbal” ou “minimamente verbal” para se referir a indivíduos que não falam. No entanto, há um crescente consenso atual — inclusive para evitar associar o verbal unicamente à fala — de que esse grupo, considerado muitas vezes como “não oralizados” ou “não falantes”, enquadra-se como Pessoas com Necessidades Complexas de Comunicação (NCC). Entende-se por pessoas com NCC aquelas que, devido a fatores físicos, sensoriais e/ou ambientais, apresentam restrições e limitações em suas habilidades comunicativas, o que interfere diretamente na sua capacidade de participar de forma independente na sociedade (Balandin, 2002). Essas pessoas têm necessidades de apoio em comunicação amplas e variadas, demandando esforços estratégicos e/ou recursos diferenciados para se comunicar.

Diante desse cenário, quando a fala não se desenvolve de forma “funcional”, a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) se apresenta como uma possibilidade de promover ou facilitar a comunicação de pessoas com NCC, por meio da utilização de métodos alternativos ou complementares de comunicação. Os recursos a serem utilizados nessa abordagem podem envolver figuras, imagens, gravuras, softwares, programas, gestos e expressões faciais, que promovem a comunicação entre a pessoa com distúrbios de fala e o ambiente (Rodrigues et al., 2016; Sbfa, 2021). Esse recurso foi uma das adaptações escolares utilizadas por 3,5% dos participantes do MAB durante sua jornada educacional. Temos comprovações científicas robustas sobre a eficácia e validade do uso da CAA na população autista, o que pode auxiliar enormemente no desenvolvimento, na aprendizagem de novas habilidades, na diminuição da frustração e na superação de barreiras comportamentais. A comunicação é um direito, e a CAA é uma possibilidade viável para as pessoas que têm dificuldade em realizá-la.

Luciana Rezente é fonoaudióloga, mestre em neurociências, docente, atendo meus pequenos buscando desenvolver a comunicação funcional e potencializar seu desenvolvimento, pesquisadora no Mapa Autismo Brasil, Membro da ISAAC-Brasil e esposa de autista.

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