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Com muito carinho recebi o convite do Canal Autismo / Revista Autismo para escrever uma coluna quinzenal nessa que é a maior referência gráfica de informações de qualidade sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA) em todo Brasil. E minha primeira contribuição é sobre uma pesquisa científica desta semana, na minha área de especialização, a comunicação no autismo.
O site da Neuroscience publicou na última segunda-feira (18.jul.2022), um artigo sobre uma recente pesquisa da Universidade de Rochester, em Nova York, onde ressalta a dificuldade do cérebro de crianças autistas em entender linguagem corporal.
Imaginem que durante uma conversa a dois, uma das pessoas (não autista) vira o corpo e se aproxima da outra (autista) ou a pessoa não autista dá um passo atrás e cruza os braços. Mensagens corporais que podemos entender como, respectivamente, interesse na conversa e resguardo ou desafio. A maior parte das pessoas entendem linguagem corporal sem precisarem de palavras. O corpo “fala” o tempo todo.
De acordo com a pesquisa, liderada pelo dr. John Foxe, Ph.D., as crianças autistas podem não conseguir processar efetivamente o movimento corporal quando distraídos com alguma coisa.
A pediatra e neurocientista, dra. Emily Knight, uma das pesquisadoras do estudo publicado no Molecular Autism, diz: “Ser capaz de ler e responder à linguagem corporal é importante nas nossas interações diárias com outras pessoas.”
Os achados do estudo sugerem que quando as crianças autistas estão distraídas com alguma coisa, o cérebro delas processam movimentos corporais diferentemente do que seus pares. Para isso, a equipe de cientistas gravou as ondas cerebrais das crianças através do eletroencefalograma enquanto estas assistiam vídeos de pontos móveis colocados de modo a parecerem pessoas. Nestes vídeos, os pontos representavam movimentos de corrida, chutes e pulos, e de vez em quando mudavam de direção ou eram induzidos a não movimentarem mais como uma pessoa. Crianças entre 6 e 16 anos foram instruídas a focarem na cor dos pontos ou focarem nos pontos que se movimentavam como uma pessoa. Os pesquisadores descobriram que as ondas cerebrais dos autistas não processavam movimento enquanto focavam nos pontos de cor.
“Se o cérebro pouco processa movimentos corporais, deve ser muito duro entender outras pessoas, sendo preciso que prestem muita atenção na linguagem corporal para conseguirem compreendê-la”, afirma a dra. Emily.
Sem dúvida, esta pesquisa nos revela a necessidade de investir na comunicação total de pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA) como um relevante tipo de suporte na sua inclusão social.
A pesquisa é de acesso público e pode ser lida aqui: https://molecularautism.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13229-022-00512-7