18 de outubro de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

O relacionamento amoroso entre autistas ainda é um tema cercado de tabus na sociedade.

“Mas autistas adultos namoram?”. Essa é uma das muitas perguntas que, se você é homem ou até mesmo mulher no espectro autista, já deve ter ouvido em algum momento. Certamente, em alguma ocasião, como autista diagnosticado, você já se deparou com essa pergunta — às vezes de forma despretensiosa, mas na maioria das vezes de maneira constrangedora. Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade imediatista e tradicional que tenta, a qualquer custo, impor padrões sociais convencionais.

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Esse tipo de cobrança é algo muito comum, especialmente para as mulheres, que representam a maioria da sociedade brasileira. Contudo, nós, homens, também não estamos imunes a essas pressões, mesmo historicamente acostumados com os privilégios do patriarcado. Essas cobranças afetam tanto homens quanto mulheres diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Ao longo dos últimos 14 anos, desde que recebi o diagnóstico de autismo, os temas sobre o amor e a vivência da sexualidade despertaram em mim sentimentos antagônicos. De um lado, a curiosidade de entender como essas sensações se manifestam em uma pessoa atípica; de outro, uma desconfiança quanto à minha capacidade de vivenciá-las na prática, bem como a falta de suporte para aprimorar minhas habilidades de comunicação não verbal.

Se fosse para definir o que é o amor na prática, não seria uma tarefa fácil. As relações humanas são fascinantes, mas, ao mesmo tempo, podem causar medo, principalmente pelo receio de não conseguir corresponder às expectativas da outra pessoa.

Não tive muitas experiências amorosas, mas não por falta de oportunidades. Minhas vivências foram, em sua maioria, paixões platônicas que nunca se concretizaram, em grande parte devido à minha dificuldade de interpretar linguagens não verbais. Isso dificulta saber se a pessoa está interessada em você ou apenas curtindo a sua companhia. Tudo isso se torna ainda mais complicado em uma sociedade onde os valores estão cada vez mais fluidos e inconstantes.

Falar sobre sexualidade e relacionamentos amorosos ainda é um desafio na comunidade autista, principalmente por causa do capacitismo que historicamente afeta pessoas com deficiência, incluindo autistas. A sociedade insiste em controlar nossos desejos e corpos, apesar de isso ser algo natural para qualquer ser humano, independente de ser ou não uma pessoa com deficiência.

Portanto, não é tratando o assunto com indiferença ou tabu que vamos evoluir. É fundamental que os pais comecem a falar sobre sexualidade com seus filhos autistas, especialmente aqueles com nível de suporte mais funcional, como é o meu caso. Eles devem ser instruídos a se proteger de situações perigosas, como relacionamentos abusivos, e de casos de abuso sexual, tanto para homens quanto para mulheres.

Além disso, espera-se que, com os resultados do Censo 2022 do IBGE, o Governo Federal comece a pensar em políticas públicas para que o Ministério da Saúde possa melhorar o atendimento aos pacientes autistas no Sistema Único de Saúde (SUS). Profissionais capacitados poderão auxiliar adultos autistas a enfrentar essa fase da sexualidade de forma plena e prazerosa, garantindo-lhes o direito de serem felizes à sua maneira.

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