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Entramos oficialmente no mês de dezembro. O último mês do ano não é apenas um momento para relembrar tudo o que vivemos ao longo de 2024 e projetar as expectativas para 2025. Ele também traz um desafio específico para nós, autistas: as festas de final de ano.
Historicamente, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), devido às suas características, enfrentam dificuldades de interação social. Nesse contexto, eventos como confraternizações de empresas, festas de Natal e Réveillon podem ser desconfortáveis, principalmente pela exposição a diversos estímulos, como sons, cheiros e a chamada ressaca social — o esgotamento causado pela intensa exposição a interações sociais e estímulos.
É consenso que sair e se distrair faz bem para o corpo e a mente, ajudando a evitar o sedentarismo e pensamentos intrusivos sobre questões como o capacitismo que enfrentamos. Porém, durante anos, ir às festas da empresa do meu pai foi um grande desafio, especialmente por ter que cumprimentar tantas pessoas.
Somado a isso, os estímulos sensoriais intensos e a falta de conversas construtivas faziam com que eu chegasse em casa completamente esgotado. O mesmo ocorre nas festas de Natal e Réveillon. Não sou contra reunir a família, dar boas risadas com conversas inteligentes ou participar de um amigo secreto. O problema surge quando há som alto e consumo de álcool, tornando tudo muito desconfortável para quem aprecia tranquilidade.
E as namoradinhas?
Outro tema que incomoda tanto pessoas neurotípicas quanto autistas é a clássica pergunta sobre “as namoradinhas”, feita por tios e tias que se sentem especialistas em nossas escolhas de vida. Essa questão, além de ser chata, é extremamente inconveniente e, no passado, foi algo com o qual tive muita dificuldade em lidar.
Com o tempo, ao envelhecer e amadurecer, fui superando inseguranças e ganhando coragem para contrariar expectativas familiares, optando por trilhar meu próprio caminho. Assim, sigo meu ritmo, como muitos amigos fizeram, ao decidir casar, namorar e formar uma família após concluir o colégio e a faculdade. Outros focaram na construção de uma carreira e estabilidade financeira.
Felizmente, venho de uma família tradicional que, embora religiosa, sempre respeitou as escolhas individuais, especialmente dos mais jovens, como eu, considerando nossas dificuldades e realidades. Por isso, quero enfatizar que, independentemente de ser autista ou não, ninguém precisa se isolar como um “bicho do mato”. O importante é buscar o que faz sentido e traz conforto durante as festas de fim de ano, evitando crises.
Dicas para você, adulto autista, curtir o fim de ano com tranquilidade
Para encerrar, deixo algumas dicas práticas para adultos autistas — ou para quem conhece alguém no espectro — aproveitarem as festas de fim de ano de forma tranquila, minimizando riscos de meltdown ou shutdown:
- Antecipe as festividades: Explique ao autista o que é a festa, quando ocorrerá e use elementos visuais para situar o evento que será celebrado.
- Escolha um local isolado: Procure um local tranquilo para se proteger do barulho dos fogos de artifício. Lembre-se de que, em muitas cidades, fogos de artifício convencionais são proibidos.
- Evite sons e ruídos altos: Prefira locais mais silenciosos ou com música em volume moderado.
- Fuja de ambientes muito agitados: Priorize espaços calmos, com menos pessoas e movimentação.
- Iluminação confortável: Opte por locais com iluminação clara e agradável, sem excesso de luzes piscando ou muito fortes.