23 de agosto de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Em um país onde falar sobre emoções ainda é um tabu, o desafio torna-se ainda mais complexo quando se discute o assunto estando no espectro autista.

No livro O Fato Social, escrito pelo filósofo francês Émile Durkheim, existe a seguinte frase: “Antes de você nascer, a sociedade já estava pronta.” Lembro-me bem dessa frase, que era frequentemente usada pelo meu professor de sociologia para responder às minhas perguntas sobre as normas de conduta social para homens e mulheres.

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Foi graças a essas discussões “tolas e ingênuas” que fui moldando minha escolha pela profissão de jornalista e aprendendo a refletir mais sobre as questões relacionadas aos papéis de gênero pré-determinados socialmente. Por um lado, isso ajuda a compreender nosso processo de evolução até aqui; por outro, demonstra o quanto essas funções estabelecidas se mostram nocivas e prejudiciais à convivência harmônica entre homens e mulheres.

Ao longo da história, essas convenções sociais deixaram fraturas que ainda estão longe de ser cicatrizadas. De acordo com dados divulgados pelo IBGE em 2022, as mulheres dedicam mais de 9 horas diárias a cuidados domésticos do que os homens. Essa estatística comprova o quanto o sistema patriarcal, criado para beneficiar nós, homens, se mostra disfuncional e desigual, fazendo com que as mulheres carreguem o ônus dos cuidados com o lar e os filhos.

Esse sistema acaba sendo sustentado por instituições normativas como a família e a igreja, que reforçam esses ideais, assim como o modelo de homem na sociedade: o provedor, viril, que não pode chorar, enquanto a mulher precisa ser submissa e paciente. A questão aqui não é discutir a doutrina em si, mas a forma como ela é pregada, contribuindo para a criação de homens violentos e frustrados, incapazes de administrar suas emoções corretamente e sem julgamentos. Esse processo, inclusive, tem um nome: “masculinidade tóxica.”

Conforme o último levantamento divulgado pela Rede de Observatórios de Segurança Pública, uma estatística alarmante revela que a cada três horas uma mulher é vítima de violência no Brasil. É consenso que o combate à violência contra a mulher deve ser feito a partir de campanhas e legislações eficientes, assim como de canais para denúncia e acolhimento. Ao mesmo tempo, uma questão que me incomoda e que raramente é discutida é a saúde mental do homem. Será que ela não está sendo negligenciada nesse contexto?

Estamos na véspera de mais uma edição da campanha Setembro Amarelo — Mês de Conscientização e Prevenção ao Suicídio. O índice de mortalidade de homens que atentam contra a própria vida é de 9 para cada 100 mil habitantes. Nesse sentido, falar sobre a valorização da vida é importante, mas será que com isso não estamos apenas reduzindo os danos, em vez de tratar a origem do problema?

Falar sobre sentimentos rompe barreiras e estruturas, principalmente para quem está no espectro autista, onde administrar as emoções é extremamente difícil e desafiador. Portanto, se quisermos criar uma cultura de convivência saudável, precisamos deixar de lado o tabu e permitir que os homens falem sobre suas emoções e busquem ajuda. Humildade em admitir erros não é defeito, mas sim uma grandeza.

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