Tempo de Leitura: 2 minutos
Você já ouviu falar no termo jobghosting? O termo vem do inglês: job, que significa trabalho, e ghost, que remete ao ato de desaparecer ou ignorar. Aliás, essa palavra é frequentemente utilizada para descrever o término repentino de um relacionamento sem explicações. No contexto profissional, jobghosting refere-se à prática de interromper abruptamente a comunicação em um processo seletivo, deixando o candidato sem respostas ou justificativas.
De forma simples, esse comportamento ocorre quando o candidato envia seu currículo para concorrer a uma vaga, é chamado para uma entrevista presencial com o gestor de recursos humanos (dependendo do cargo), e, em seguida, fica aguardando um retorno. Essa espera, natural em processos seletivos, gera ansiedade no candidato que busca uma recolocação no mercado.
Porém, dias, semanas ou até meses se passam sem que ele receba um telefonema, e-mail ou mensagem. A expectativa dá lugar à frustração, acompanhada da certeza de que não foi escolhido para a vaga. Além da insatisfação com o resultado, a ausência de respostas gera incerteza: por que não foi selecionado? O que poderia ter feito diferente?
Se para trabalhadores neurotípicos essa situação já é frustrante, para profissionais atípicos o impacto é ainda maior. Isso se deve à dificuldade adicional de lidar com as frustrações, combinada ao preconceito velado que muitas empresas ainda têm contra trabalhadores atípicos. Muitos empregadores, ainda presos a estigmas históricos, questionam a capacidade desses profissionais de exercerem cargos diversos.
Nos últimos anos, a transformação tecnológica, impulsionada pelas restrições da pandemia de COVID-19, alterou drasticamente a estrutura organizacional. A automatização de processos, incluindo recrutamento e seleção, com o uso de Inteligência Artificial (IA), reduziu custos operacionais, mas também distanciou as relações humanas no mercado de trabalho.
Não pretendo aqui fazer uma análise simplista sobre culpados e inocentes. Esse é um problema complexo, com múltiplas perspectivas. Contudo, em uma era em que conceitos como ESG (Environmental, Social, and Governance — ou Meio Ambiente, Impacto Social e Governança, em tradução livre) ganham destaque no mundo corporativo, percebe-se um descompasso entre o discurso e as ações práticas.
Antes de tudo, é importante lembrar que, além da tecnologia, empresas são feitas de pessoas. Como pode uma organização ser considerada socialmente responsável se não trata as pessoas com respeito e ética, independentemente de raça, etnia, cor, classe social ou deficiência, conforme determina a Constituição Federal? Ao adotar a prática de não fornecer feedbacks aos candidatos, essas empresas demonstram não apenas falta de ética, mas também de respeito à dignidade humana, especialmente em relação aos autistas.
Ninguém escolhe estar desempregado, e com trabalhadores autistas não é diferente. Nesse sentido, uma empresa socialmente responsável deve pensar na inclusão não apenas como a criação de espaços adaptados ou o cumprimento de cotas, mas também como a valorização das habilidades que esses profissionais podem agregar à organização, indo além de suas condições específicas.