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18 de junho está no calendário do autismo anualmente como uma data marcante. O Dia do Orgulho Autista é celebrado como forma de ver a condição sob uma ótica positiva. Mas, na nossa comunidade, não são todos os olhares que enxergam a data com bons olhos.
As tensões com relação a esta data me provocaram uma reflexão. Particularmente, gosto de observar fenômenos, inicialmente, com o máximo de distanciamento que posso obter. Isto é, verificando argumentos a favor e contra e, a partir disso, construindo uma linha de raciocínio.
Quem foi contra geralmente se desdobrou em duas grandes vertentes. A primeira destaca que características individuais de seres humanos são uma maneira de incentivar a formação de “guetos”. A segunda, que autismo não é algo para se orgulhar.
Quem foi a favor, por outro lado, também se desdobrou em algumas linhas de raciocínio. A principal é de que autismo, como condição, é uma característica e parte da identidade de uma pessoa, e por isso deve ser celebrado.
Como um autista diagnosticado com Síndrome de Asperger, costumo pensar que ainda é estranho fazer juízo de valor de uma característica pessoal. Ser autista, num mundo ideal, talvez deveria ser como ter um nariz. Você se orgulha de ter um nariz?
Ora, se o autismo é parte da identidade humana, como os que se posicionam a favor dizem, então qual a necessidade do orgulho? Penso que só existem discussões sobre orgulho acerca de temas em que inegavelmente há preconceito. Num mundo ideal, por exemplo, não existiria orgulho LGBT, porque a diferença na orientação sexual não seria um fator de incômodo alheio.
Mas não vivemos num mundo ideal, e enxergo a ideia de orgulho como uma ferramenta temporária de compensação. Enquanto existir preconceito, enquanto autistas e seus familiares forem menosprezados por um conjunto de sinais, criaremos um contraponto a partir da noção de orgulho até um momento em que não precisemos mais de um Dia do Orgulho Autista.
Creio que descentralizar o debate sobre o fato de se ter ou não orgulho é necessário para identificar o porquê do preconceito e destrinchá-lo. Isso envolve discutir o autismo e, em certa medida, também colocar visões contrárias sobre o diagnóstico na mesa. Isso é um desafio irrecusável para esta geração.