10 de junho de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

Especialistas dão dicas de como ajudá-los no dia-a-dia e no mercado de trabalho

Quase todo mundo conhece uma criança que foi diagnosticada com autismo. Mas, muitas vezes, os adultos ficam “invisíveis” por não terem sido avaliados corretamente. “É muito comum autistas terem passado boa parte da vida como esquizofrênicos, por exemplo”, diz o geriatra Marcelo Altona, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e coordenador do Programa de Envelhecimento do Instituto Serendipidade, que atua com inclusão de pessoas com deficiência intelectual na sociedade. Quando conseguem chegam ao mercado de trabalho, as pessoas autistas encontram várias dificuldades que poderiam ser evitadas se as empresas fizessem pequenas modificações.

Segundo a neuropsicóloga Joana Portolese, da Faculdade de Medicina da USP, estudos apontam que apenas entre 10 e  20% dos autistas considerados leves chegam ao mercado de trabalho ou à universidade. E, quando conseguem, encontram ambientes inadequados. “Eles podem apresentar sensibilidade à luz ou ao barulho. É preciso fornecer meios para que se sintam mais confortáveis”, diz ela citando o uso de fone de ouvidos ou até mesmo a realocação do autista no espaço físico para deixá-lo em um local com menor movimentação de pessoas. Joana destaca que, em diversos aspectos, pessoas com autismo podem ser mais eficientes em certas funções do que pessoas fora do espectro.

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“Com a propensão ao hiperfoco (estado de concentração intensa), eles respondem muito bem quando têm um planejamento. São excelentes executores quando recebem um roteiro” , diz Joana, frisando ainda que metas a curto prazo também são bem-vindas.

Estimular a autonomia do adulto autista também é fundamental, diz a neuropsicóloga. “Quanto mais os adultos conseguem sair sozinhos, dirigir, ir à farmácia ou ao mercado sem acompanhamento, mais fácil se resolvem nas relações pessoais, que são um ponto de dificuldade, já que os autistas não são bons na leitura social”.

Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Rosane Lowenthal diz também ser importante que as empresas  enxerguem a diversidade entre os autistas adultos. Nem todos vão ter hiperfoco, por exemplo. “Alguns gostam muito de detalhes. É importante que o empregador saiba disso, que dê tarefas de classificação, de elaboração de planilhas.  Ela lembra que também é necessário dar o tempo necessário para eles se organizarem. “Às vezes, a pessoa autista precisa falar sozinha, precisa ir a algum lugar sem pessoas ao redor”. Ela diz ainda ser preciso intervir na habilidade social, mas frisa que não há um manual. “Tem que ter apoio, oferecer uma intervenção individualizada, não pode falar ‘você age assim ou assado’, cada caso é diferente”.

CEO da Specialisterne, empresa social que intermedia a contratação de pessoas com TEA, Marcelo Vitoriano diz que empregar alguém com o transtorno tem vantagens em várias frentes. “ A primeira dela é que a empresa verdadeiramente valoriza a diversidade e inclusão e abre oportunidades para pessoas com diferentes características. Boa parte das pessoas autistas possuem alta concentração nas atividades, raciocínio lógico apurado, são detalhistas e metódicos e podem trazer soluções inovadoras”.

Marcelo diz que a principal iniciativa para uma inclusão com qualidade é a adaptação dos processos de recrutamento e seleção. Não é possível ter uma seleção onde a pessoa seja “reprovada por dinâmicas de grupos ou porque não conseguiu olhar para os olhos do entrevistador”, diz, recomendando ainda que seja dada muita informação para as empresas sobre a realidade das pessoas com autismo e  suas características, pois isso facilita o acolhimento adequado.

Diagnosticado com TEA quando criança, Marcos Petry, que hoje tem um canal no YouTube intitulado Diário de um Autista e capacita professores para atender crianças com o diagnóstico, acrescenta ainda uma outra lição: “É importante se aproximar do indivíduo autista, e não do autismo no indivíduo”, diz.

(Instituto Serendipidade)

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