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A edição de 2024 do relatório Reuters Digital News Report, produzido pelo Instituto Reuters, do Reino Unido, mostrou que, no Brasil, 45% das pessoas entrevistadas afirmaram confiar em informações compartilhadas por influenciadores e criadores de conteúdo que atuam em plataformas de mídia social como TikTok, YouTube e Instagram.
Esse dado evidencia um problema grave que pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm enfrentado: o perigo do autodiagnóstico de autismo, algo extremamente problemático e que tem desafiado famílias, a comunidade científica e até mesmo a mídia tradicional.
No mês em que se celebra o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, em 2 de abril, uma reportagem publicada na semana passada pelo portal Aos Fatos trouxe à tona esse problema, com foco especial nos vídeos virais que circulam no TikTok e no Instagram. A reportagem, assinada pela jornalista Bianca Bortolon, aponta os efeitos negativos desses conteúdos, que apresentam critérios subjetivos e ajudam a espalhar desinformação sobre o autismo.
Outro ponto grave citado na matéria são os autotestes disponíveis em links oferecidos por influenciadores, que, na verdade, funcionam como iscas para capturar dados pessoais dos usuários e usá-los de maneira indevida, inclusive para a aplicação de golpes virtuais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que existam cerca de 2 milhões de autistas no Brasil.
É importante lembrar que ninguém se torna autista da noite para o dia. O crescimento do número de diagnósticos, sobretudo na fase adulta, tem relação com o maior acesso à informação, a mudança nos critérios diagnósticos e a aprovação de legislações que passaram a garantir os direitos de pessoas autistas — historicamente esquecidas pelo Estado brasileiro.
As redes sociais tiveram um papel decisivo nesse processo, ainda que de forma tímida e lenta. No entanto, tudo isso acaba ficando em segundo plano diante do uso irresponsável dessas plataformas por parte de usuários comuns e, pasmem, até mesmo por alguns autointitulados “especialistas” que disseminam informações falsas sobre curas milagrosas ou critérios errôneos de diagnóstico. Isso representa um risco à saúde e ao bem-estar de pessoas autistas.
Muitos desses criadores de conteúdo agem com a certeza de que não serão responsabilizados judicialmente, já que o Brasil ainda não possui uma legislação específica que regulamente a atuação das plataformas de mídia social transnacionais em seu território. Isso estimula a livre circulação de conteúdos desinformativos, gerando preconceito e ódio contra essa parcela da população.
Diante desse cenário, é fundamental que nós, autistas, ocupemos esses espaços para combater boatos e desinformação, assegurando que o ódio não se sobreponha ao interesse coletivo da nossa comunidade.
Por fim, se você desconfia que possa estar no espectro do autismo, procure um profissional especializado. E, por favor, fuja dos “gurus” das redes sociais.