1 de março de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

Se você assistiu na televisão aos especiais do Trem da Alegria e Balão Mágico, ou aos desenhos de He-Man, Thundercats, Pequeno Príncipe e Cavalo de Fogo, acredito que tenhamos uma idade bem próxima.

De uns tempos para cá, muitas dessas produções tentam nos pegar pela nostalgia e lançam novas histórias com traços modernos, cores vivas e assuntos atuais. Já tentei apresentar as produções antigas para meus filhos, mas o engajamento e curtição foram zero.

Publicidade
Matraquinha

Porém, sou resiliente e, assim como você, não desisto nunca.

Recentemente, aqui na cidade de São Paulo, entrou em cartaz o espetáculo Em Busca do Balão Mágico. Mostrei para minha esposa Grazy e bastou apenas um olhar para que, segundos depois, tivéssemos garantido nossos ingressos.

Gabriel pagou meia entrada e eu como acompanhante paguei meia também. Grazy, que tinha abandonado a carreira e estudos para cuidar do nosso filho, voltou a estudar e também garantiu a sua meia entrada, e a Thata que tinha 4 anos também entrou no pacote pela pouca idade.

Sempre que programamos os nossos passeios há a seguinte frase:

— Vamos tentar, talvez tenhamos que voltar depois de 5 minutos, por outro lado, se ficarmos 10 minutos já estamos no lucro.

Ao chegar no teatro fomos bem recepcionados, sentamos na terceira fileira e sempre ao lado do corredor para podermos ter rota de fuga caso necessário.

As luzes diminuíram de intensidade, as cortinas subiram e o show começou; entre uma canção e outra, momentos de emoção e pura nostalgia tomaram conta. Ao olhar para meus filhos, notei que eles estavam admirados e encantados de verem outras crianças cantando canções para crianças, algo raro nos dias atuais.

O momento mais alto do espetáculo foi quando o Fofão entrou, os adultos foram imediatamente transportados para a década de 1980 e as crianças ficaram hipnotizadas com aquele personagem bochechudo, com cabelos de lã e que fala “apatralhado”.

Depois de mais de uma hora de espetáculo o meu filho ainda estava lá, sem crises, choros e;ou irritações. Em alguns momentos bateu palma e deu seus gritos de felicidade.

A Thata acenou para o Fofão que prontamente retribuiu e foi o assunto mais comentado daquele mês.

Passados alguns meses, tiramos nossas merecidas férias. Para não haver erros, sempre vamos a lugares que tenham praia ou piscina, e se tiver os dois é melhor ainda.

O Gabriel sempre gostou de água e, mesmo que a temperatura estivesse baixa, nada poderia impedi-lo de mergulhar. Até que, neste ano, ele correu em direção ao mar, molhou as canelas, cruzou os braços e deu uma baita resmungada. 

Sem entender o que estava acontecendo, me aproximei e senti nas minhas próprias canelas a baixa temperatura da água e também não tive a menor vontade de entrar. Mas, ao olhar para o lado, minha filha estava lá e até parecia em outra dimensão, pois não era possível que ela estivesse na mesma água em que estávamos.

Foi aí que percebi que o Gabriel sempre entrava na água porque ele era criança e agora, com 13 anos, algumas coisas mudaram e vão continuar mudando. Eu mesmo tenho fotos em piscinas onde as pessoas do lado de fora estavam de blusa.

Mesmo assim as férias foram divertidas, muitos passeios e sorvetes completaram nosso merecido descanso.

Ao voltar do litoral e ainda em ritmo de férias resolvemos enfrentar um novo desafio. A Thata nunca tinha ido ao cinema e pensamos ser uma boa ideia criar essa memória com a família inteira.

E aquela frase veio:

— Vamos tentar, talvez tenhamos que voltar depois de 5 minutos, por outro lado, se ficarmos 10, já estamos no lucro. Desta vez houve um adicional: para que ela não perdesse o filme, eu sairia com o Gabriel da sala do cinema.

Foi o mesmo esquema do teatro — poltronas próximas do corredor e “vamos na confiança!”.

Meia entrada para todos e com a economia deu até para comprar pipoca e água, afinal de contas, a experiência da primeira vez deve ser completa. E foi até o fim, superamos mais um desafio.

Nos letreiros finais e com a canção que acompanhava o encerramento do filme o Gabriel ainda teve pique de ficar dançando embaixo do telão do cinema.

E quanto ao meu último pedido, ainda não pensei nisso. Continuaremos vivendo nesta montanha-russa com os altos e baixos, que em alguns dias nos dão esperança e noutros tiram.

Feliz 2023!

COMPARTILHAR:

Pai do Gabriel (que tem autismo) e da Thata, casado com a Grazy Yamuto, fundador da Adoção Brasil, criador do app matraquinha, autor e um grande sonhador.

André e a Turma da Mônica em: Mais informação

Metamorfoses — As controvérsias sobre autismo e diversidade de gênero

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)