3 de abril de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

Eu trabalho na Organização Neurodiversa pelos Direitos dos Autistas, sou ativista pela neurodiversidade. Já escolhi o que quero para mim, para meus filhos e para a sociedade há muito tempo.

Falo sobre a neurodiversidade, explico o conceito sempre que posso, busco esclarecer os equívocos que vejo sendo divulgados muitas vezes por pessoas que nunca se interessaram em pesquisar sobre o assunto, repudio a rigidez de alguns profissionais que não tentam enxergar uma condição humana por um viés social e não estritamente biomédico, já que o primeiro, inclusive, engloba o segundo e não é reducionista a ponto de ver alguém apenas através de suas dificuldades.

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Digo e repito que a convivência humana é mútua e, ao colocarmos uma maneira de existir em posição de superioridade à outra, deixamos de lado o que podemos somar, segregamos as diferentes formas que constituem a raça humana e que colaboraram e continuam colaborando ao longo de nossa evolução com a construção da sociedade.

Todos sabem da minha convicção de que são as diferenças que nos levam para frente e, sempre que alguém no mundo tentou colocar alguma composição existencial como superior às demais, o que tivemos foi barbárie e retrocesso. Quantas descobertas vieram de quem olhou para algo de maneira diferente? Quantas inovações surgiram da cabeça de uma pessoa que viu o que ninguém tinha visto, que pensou como ninguém tinha pensado? Quantos avanços sociais, filosóficos, tecnológicos, artísticos ocorreram por mentes atípicas ou através de quem pode conviver com pessoas tão diferentes de si na sua existência que as inspiraram a criar?

Qualquer pessoa pode duvidar disso tudo e achar que é o padrão que nos move, mas insisto que o padrão é o que nos torna hirtos, ao contrário, é o ponto fora da curva que nos leva adiante. E novamente, assim como a neurodiversidade não exclui o biomédico de pronto, ela também não nega a importância do padrão. Apenas nos diz: “o padrão não é existir um normal e um anormal, o padrão é ser diverso!”

É normal que uns tenham mais dificuldades e outros menos, e que todos que têm dificuldades merecem apoio. Mas ter mais dificuldades, quando se trata da maneira de existir e não de conjecturar como seria se existisse de outra “mais normal”, não significa reduzir o ser apenas a tais dificuldades. Ainda é preciso entender que muitas dessas dificuldades não se dão apenas por características do indivíduo que existe de uma maneira atípica, mas sim pela inabilidade da tipicidade de conviver com as diferenças.

A neurodiversidade trata de ajudar o ser com o que é do ser, mas também de ajudar a todos os seres com o que lhes cabe, principalmente quando são suas estruturas que dificultam a existência alheia. A neurodiversidade trata de empatia quando entendemos que, se alguém comunica diferente de mim, logo, comunico diferente dele. Quando alguém interage diferente de mim, logo, interajo diferente dele. Quando alguém se comporta diferente de mim, logo, me comporto diferente dele. E tudo isso são vias de mão dupla, pois o ser humano é social e tudo que é constitutivo da existência humana deve estar envolvido nessa troca.

Com tudo isso, espero que todos e todas já tenham claro no pensamento que é o que defendo. E lhes pergunto o que esperam para seus filhos e filhas? Saibam que esses meus posicionamentos não são unânimes. Existem muitas pessoas que discordam muito de tudo que foi exposto. Muitos profissionais enxergam o autismo como patologia a ser curada. Muitos olham para as dificuldades e dizem que a pessoa tem que aprender a ser normal e a ter comportamentos típicos. Estou vendo um grande movimento ultimamente de vários profissionais que negam a neurodiversidade, negam o Espectro do Autismo, insistem em usar termos ultrapassados, não na visão deles, é claro, e repudiam considerar que existir dessa maneira atípica possa contribuir para a sociedade de alguma maneira.

Têm intenção de consertar em nome de se adequar a uma sociedade que não aceita o diferente. Entendem as deficiências como falta do indivíduo, e não como barreiras impostas pelo todo. Patologizam o Autismo e colocam a carga toda na pessoa Autista, ou com Autismo como muitos preferem dizer. E, pautados nessa visão, oferecem seus serviços aos seus filhos e filhas.

Como disse no início, vocês já sabem minha posição diante do autismo e da neurodiversidade. Há muitos profissionais extremamente capacitados que compactuam com essa minha posição. Existem muitos outros que discordam totalmente dos meus posicionamentos. Eu vou continuar falando sobre neurodiversidade, sobre deficiência pelo prisma social. Tantos outros vão dizer o contrário.

E, você, qual visão escolhe para seu filho ou filha? Qual tipo de profissional você quer para lhe acompanhar nessa caminhada? Nem sempre são escolhas fáceis, mas são escolhas necessárias.

Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismo

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