7 de fevereiro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Por Fábio Cordeiro

Presidente da ONDA-Autismo

Hoje, a reflexão que proponho a vossa mercê, trata-se da língua que falamos. Língua é cultura, é expressão, também mostra muito de uma pessoa ou de um povo.

Como nos apresentamos, a maneira com que somos vistos tem muito a ver com a língua que falamos e, principalmente, como a falamos.
Muitas vezes, somos julgados pelo modo como expomos nossa fala. É verdade que ela expõe, geralmente, o meio em que habitamos ou de onde viemos. Ela mostra origem e desnuda, por vezes, ideologias, posições políticas ou preferências de grupos de convívio.
E, nessa reflexão, proponho a vosmecê estímulo a pensar aí quantas vezes já foi julgado pela sua maneira de fala ou até mesmo quantas vezes já julgou alguém.
Nossas estruturas sociais são muito alicerçadas ainda em preconceitos, e, nessa questão, não é diferente, pois quando implicamos inteligência maior ou menor a alguém apenas pela maneira como o indivíduo fala, nada mais é do que o preconceito linguístico sendo exposto sem que nem percebamos muitas vezes.
Todas as pessoas têm uma maneira individual de expressar sua fala. Na prática, ninguém se expressa verbalmente fazendo uso da norma culta da língua.
Como a pessoa vai falar, depende muito de vários fatores como: ambiente em que se encontra, meio de socialização, nível de escolaridade, região em que habita, entre outros.
Sendo assim, é completamente normal que a comunicação entre os seres, considerando que comunicar exige uma troca e nunca é uma via de mão única, se dê de forma que, em determinados grupos, ela ocorra por meio de maneiras muito distintas se comparada com outros grupos.
O problema ocorre quando, na intersecção desses grupos, um se coloca, ou tenta se colocar, como o mais correto em relação aos outros. E aí entra o preconceito, pois geralmente há um grupo que visa estar mais correto, achando que fala da maneira certa enquanto os outros estão errados. Isso está diretamente ligado aos demais preconceitos em nossa sociedade.
Os grupos que têm uma classe social mais elevada, de pessoas brancas, heterossexuais, com mais acesso à educação, que vivem em regiões mais desenvolvidas economicamente, por via de regra são os mesmos que se consideram os mais assertivos na hora da fala, julgando, por consequência, os demais grupos como incapazes, menos inteligentes, não dignos dos melhores cargos, etc.
Vemos isso acontecer com os estilos musicais. Por exemplo, aqueles que são mais comuns na comunidade periférica, como o funk, são julgados como os que apresentam expressões  mais chulas.
Mas, nessa reflexão que proponho a você, quero que perceba e entenda que a língua não é estática. Ela muda e evolui com o tempo, e muitas dessas mudanças têm origem nesses grupos periféricos, menos favorecidos que, mesmo com a resistência das elites a princípio, seja pelo preconceito citado ou por qualquer outro motivo, acabam por serem aceitas por todos, inclusive pelos grupos que a rejeitavam, modernizando a língua e tornando uma expressão mais verdadeira da cultura atual.
E é isso, a língua uma das protagonistas da expressão cultural de um povo. Isso nos mostra como o preconceito linguístico, ligado a outros preconceitos arraigados em nossa sociedade, atua para colocar uma escala de qual cultura é mais apropriada para nossa população, porém, não tem cultura melhor ou pior quando o que ela representa é o próprio povo.
A fala representa o que de fato existe em nosso meio, do contrário, determinada demanda não estaria representada caso fosse irrelevante na sociedade. E existir não é irrelevante. Todos existimos, nos representamos pela nossa fala e queremos ser ouvidos. Ao negar a maneira de se expressar de alguém, estamos negando nossa própria evolução enquanto seres que existimos dentro de uma diversidade que faz a língua evoluir e, por consequência, fotografa de maneira mais real a nossa existência em coletividade.

O vossa mercê evoluiu para chegar até você e representar muito bem o nós. Quem sabe em breve teremos novas evoluções que representem melhor todos, todas e “todes”!

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