3 de outubro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Hoje, se fizermos uma pesquisa na Internet sobre saúde feminina, o que aparece são temas voltados para a ginecologia. E nós, mulheres, estamos muito além da nossa definição de gênero sexual. Nossos cuidados íntimos são importantes, principalmente se pensarmos aqui, propriamente, como mulheres autistas que somos. E relembrar a puberdade, a menarca, a gravidez, o puerpério… que, para nós autistas, pode ser ainda mais complicado, ocasionando inclusive depressão pós-parto e chega a durar muito mais tempo do que aquele período comumente chamado de “resguardo” de 40 dias. Avaliar a saúde feminina por esse aspecto é sim importante para nós, mas não tudo, limita nossos acessos a questões tão importantes quanto a nossa saúde mental, por exemplo.

Mulheres autistas tendem, por efeito do mascaramento, a aumentarem os sintomas e os riscos para problemas de saúde, pois essa prática por tempo prolongado lhes traz danos substanciais. Condições dolorosas podem se estabelecer, como fibromialgia, pânico, ansiedade, etc. A negligência (in)voluntária à própria saúde está diretamente relacionada ao modo como somos atendidas nas unidades de saúde. E esse atendimento, ou melhor, a falta dele faz com que evitemos cada vez mais os médicos e a procura para as consultas que tanto precisamos. Começamos a negar a necessidade de que carecemos de atendimento médico, quando os traumas do passado vêm.

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Assim como só se estabelece a saúde ginecológica quando pesquisamos sobre mulheres, quando pesquisamos sobre mulheres autistas, o tema recorrente é o mascaramento. Como os especialistas se preparam por anos para sua expertise, deveriam também se preocupar em como atender a diversidade para que a expertise aproxime e não repila. Médicos precisam saber que há maior suscetibilidade emocional e também para as dores. O aumento dessas dores, mesmo em procedimentos simples, e a invalidação dessas dores deixam muitas mulheres constrangidas. Portanto, preferem arriscar a saúde a retornar ao que lhes causa dor.

Se considerarmos outros aspectos para a saúde feminina, vemos também a falta de atendimento humanizado. Afinal, somos recebidos sem o “acolhimento” devido, e isso só piora a depender do seu nível de suporte para o autismo. Isso para a pessoa típica pode ser incompreensível, mas, para a atípica, é mais difícil enfrentar o constrangimento. Uma coleta de sangue pode ser algo que traz muita dor. Imagina exames mais “invasivos” como os de prevenção PCCU*.

O autismo feminino precisa de mais pesquisas e validações.

“A parte feminina do autismo é mais afetada por condições como Ansiedade, Depressão e Transtornos Alimentares, além de maior propensão a demonstrarem sofrimento psicológico, o que também podemos relacionar ao diagnóstico tardio. Os critérios diagnósticos para homens são mais claros, o que facilita que recebam seus laudos mais precocemente.”

Então, os profissionais caem em erros absurdos, como:

  1. Invalidar o diagnóstico por não verem em nós características próprias do autismo feminino (e que pelo fato de não fixarmos o olhar, não estamos atentas ao que está sendo dito);
  2. Não considerar questões como as emoções e as dores exacerbadas;
  3. Não considerar questões sensoriais que podem levar a anorexia, bulimia, obesidade;
  4. Tempo longo de espera na antessala, tempo curto de consulta, e as explicações do que se tem e como se dará o tratamento ficam pendentes (A frustração que se gera é grande.);
  5. Invalidação da obesidade como característica de alguns casos de autismo, e não o excesso de ingesta, por exemplo, ou o excesso, mas por questões sensoriais e emocionais.

Comorbidades associadas ao TEA também devem ser devidamente avaliadas com critérios precisos e específicos, considerando nossas especificidades. Dentre as principais que devemos considerar, estão: depressão, ansiedade, bipolaridade, TDAH, TOC, TOD, esquizofrenia, distúrbios do sono, epilepsia, distúrbios gastrointestinais e alimentares.

Para encerrar, cabe a seguinte reflexão sobre a necessidade de adaptações para as mulheres autistas, com intervenções diretas de saúde, com uma citação de Cláudia Moraes, no texto A saúde mental das mulheres autistas, quando escreve: “Adaptações deveriam vir de forma empática, e não esperar que apenas a pessoa autista dê conta de tudo o que se espera dela, sem que isso lhe cause maiores sofrimentos.”

Por Cláudia Coelho de Moraes
Vice-presidenta da ONDA-Autismo
Francilene Vaz
Conselheira Estadual Amapá da ONDA-Autismo
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