10 de novembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

O hiperfoco, chamado por muitos de interesse restrito, é uma concentração acima do comum em assuntos específicos por parte de uma pessoa.

Os assuntos podem ser sobre os mais variados temas; desde os mais aleatórios, como concentrar-se em roteiros de trens, colecionar chaveiros, ler sobre dinossauros, mangás, animes, e tantos outros temas.

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Durante décadas o hiperfoco foi visto como um “interesse em atividades repetitivas” sem sentido.

“A criança pode desenvolver um interesse em uma atividade repetitiva, e.g., colecionar cordões e utilizá-los para auto-estimulação, memorizar números, repetir certas palavras ou expressões.”

Hoje, atualmente dando ouvidos (e não fala – Não damos fala a ninguém, apenas ouvimos ou não o que o outro diz) aos autistas, podemos nos aproximar de uma forma de comunicação tão rica e única quanto o hiperfoco.

Certa vez ouvi uma história que até hoje não sei se é lenda ou realidade, mas em muito me ajudou a olhar o hiperfoco como possibilidade de interação.

Havia um garotinho que adorava olhar as pás dos ventiladores. Não podia ver um ventilador que lá ia ele inspecionar. Buscava na internet, falava em voz alta e sabia o que cada pá poderia melhorar ou não a capacidade do aparelho. Seu pai o ouvia e decidiu seguir suas impressões. Abriram uma conta no canal YouTube (basta procurar para saber se é verdade. Nunca busquei por medo da história não estar lá) e, após um tempo de ‘inspeções gratuitas’ o garoto passa a receber ofertas de fábricas de ventiladores para inspecionar suas pás. Essa se tornou sua profissão.

A história pode não ser verdadeira, mas é muito inspiradora. E, atualmente, sabemos como o hiperfoco regula o autista e como ele pode ser fonte de comunicação e aprendizado.

Atendo um jovem que passou por vários hiperfocos. O ultimo deles, com mais de 4 anos de interesse, é o de criar caracóis. Em parceria com a escola, pudemos ampliar os interesses dele sobre o molusco em questão. Que o levou a buscar outras pessoas com interesse equivalente, encontrando uma rede razoável de jovens que partilhavam do mesmo encantamento pelo tema. Ele passou a estudar mais e, auxiliava o professor de biologia nas aulas de moluscos do ensino fundamental durante a pandemia, mostrando sua coleção pela câmera e compartilhando seus estudos. Hoje está matriculado na universidade, fazendo Ciências Biológicas e quer ser um Malacologista.

Hoje sabemos que o hiperfoco é aliado e que, dependendo da colaboração da rede de apoio, ele pode ser decisivo na escolha da carreira e no aprendizado como um todo.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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