3 de novembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

A proposta da série de textos é conversarmos sobre pontos relevantes que podem fazer uma grande diferença no resultado final do vestibular.

Como psicóloga atendendo famílias com autistas e autistas durante algumas décadas, o Ensino Médio (EM) tem sido a fase onde aparece para muitos jovens um divisor de águas. Estão todos envoltos com seus próprios crescimentos, saídas noturnas, festas e decisões perpétuas acerca do futuro que acaba de se abrir. São tempos confusos, inquietos e, claro, de muita ansiedade. Cobranças dos pais, professores, colegas, sem mencionar as internas, jogam o adolescente para o mundo dos adultos sem qualquer rede de proteção. O índice de ideação suicida no 3º ano do EM é de 30% dos jovens, segundo estudos.

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Livro: Autismo — Não espere, aja logo!

O que fazer quando esse jovem é autista? Primeiramente, gostaria de salientar que, dentro do meu ponto de vista profissional, o tema vestibular e escolha de profissões necessariamente deve ser abordado durante todos os anos do EM.  As expectativas dos adultos acerca das mudanças comportamentais referentes aos estudos, postura e engajamento social precisam ser antecipadas e explicadas com riqueza de detalhes. Claro, sempre no tempo do ouvinte. As mudanças são sempre ricas fontes de ansiedade. E essa, pode ser chamada ‘fase de ouro das mudanças’.

Alguns autistas chegam ao Ensino Médio sem muitas vezes entenderem o que é o autismo, ou ainda, mantendo um ‘segredo’ sobre sua condição. Esse cenário é muito comum para autistas de nível 1 de suporte. Isso, sem tocarmos no tema sobre evasão escolar de autistas nessa fase da educação por falta de informações e alinhamento entre escola, profissionais e famílias .

Por que essa informação é importante aqui? Porque em 3 anos ele precisará decidir se irá se inscrever no ENEM e no Vestibular como autista ou não. Ele precisará decidir se receberá os benefícios de seus direitos como PcD ao realizar as provas e, ao fazer isso, se estará pronto para dizer ao mundo que faz parte da neurodiversidade. Considero esse, um dos passos mais importantes de todo o processo.

Delicado, é um assunto que merece tempo e reflexão do protagonista.

“Em provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares, é possível receber atendimento especializado que pode incluir mais tempo para resolver as questões ou outras adaptações necessárias para a pessoa com autismo. No caso do Enem, a solicitação é feita no ato da inscrição, e a comprovação ocorre por meio de laudos médicos e de contatos dos funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).”

O que se espera de uma colheita quando o solo é fértil e o clima colaborou entre safras? Por outro lado, o que esperar se há seca ou até mesmo abundância de água?

É sobre isso. O Ensino Médio deve ser olhado e cuidado como um período de safra.

Fica com a gente que vai ter mais.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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