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Para quem já viveu nos tempos em que autismo era chamado de psicose infantil e viu os grandes nomes brasileiros e internacionais do autismo iniciar seus estudos e pesquisas sobre o tema, o desconforto sobre ‘sair do espectro’ é enorme.
Lorna Wing, certa vez em um congresso na Escócia disse: “Conversando com o Hans (Asperger), ele me disse que seus pacientes não se encaixam no autismo. E eu pensei comigo: mas são.”
Lorna contribuiu imensamente para que se iniciasse um processo de compreensão acerca do autismo e seus mecanismos cerebrais. Foi com ela que vi e ouvi autistas se expressarem oralmente pela primeira vez. E, mesmo lá de cima do palco, de onde ‘Mary’, autista, nos relatava sua experiência, nos confessa que nos seus bolsos trazia elásticos para ficar enrolando nos dedos e poder descarregar sua ansiedade e emoção vividas ali.
Claro que chorei.
Asperger’s, autistas de alto funcionamento, autistas leves, autistas de nível de suporte 1. Todos autistas.
Autistas com bom tratamento, com terapeutas que os ouçam – porque nada de ‘dar voz’ para quem já tem voz, muitas mudanças podem acontecer. Muitas habilidades podem ser de grande ajuda para avanços em áreas com mais desafios.
Mas… sair do espectro? Prefiro a máxima de um grande médico brasileiro: “foi erro diagnóstico e não era autista”.
Autista nasce autista e morre autista. E não há nada de errado com isso.
Obeso nasce obeso e morre obeso. Vai lutar contra a balança e contra a vontade de comer sempre. Vai emagrecer, mas a obesidade está lá para sempre.
E é assim que acontece na saúde mental. Por isso a expressão tão falada “contém gatilhos” faz tanto sucesso. Há que se tomar cuidado com uma coisa ou outra.
Somos o que somos.
E… tudo bem!