28 de junho de 2021

Tempo de Leitura: 4 minutos

As empresas que estruturam ações efetivas de diversidade e inclusão ― chamadas D&I ―, buscando a representatividade de nossa sociedade em seus quadros de colaboradores, e para além disto, a equidade de oportunidades de crescimento profissional para todas as pessoas, têm encontrado na criação de grupos de afinidade um aliado importante para o estabelecimento de uma cultura de respeito e valorização do diverso. 

Os grupos de afinidade podem ser tipificados por gênero, raça, LGBTQI+, pessoas com deficiência, entre outros. Estes grupos têm por objetivo gerar o engajamento de colaboradores que se identifiquem por características pessoais ou por serem aliados a determinadas causas que vêm ali representadas. Os grupos promovem sistematicamente fóruns e reuniões para propor ações que visem engajamento, troca de experiências e fortalecimento das diferentes temáticas de D&I. 

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As pessoas autistas estão representadas nestes grupos? Infelizmente ainda não. Mas, temos algumas experiências importantes na valorização da neurodiversidade, como as praticadas pelas empresas Johnson & Johnson e IBM, que compartilhamos aqui:

A Johnson & Johnson possui o ADA (Alliance for Diverse Abilities) ― grupo de afinidades que atua em três pilares: pessoas com deficiência, saúde mental e autismo ―, criado para garantir que os colaboradores com habilidades diversas pudessem ter acesso às ferramentas necessárias para o seu dia a dia de trabalho, além de se sentirem pertencentes e confortáveis na companhia.

Na Johnson & Johnson, temos como ponto principal uma cultura de inclusão e equidade. No nosso caso, contribuímos com iniciativas voltadas para talentos com habilidades diversas. A educação na temática das neurodiversidades, a atração e o desenvolvimento de talentos neurodiversos são partes importantes das ações pragmáticas que realizamos para assegurar a conscientização à nossa comunidade. A inclusão de talentos autistas contribui de maneira significativa para o desenvolvimento de todos dentro da companhia. Também são iniciativas-chave do nosso grupo de afinidade a educação e a conscientização sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) e o acolhimento dos nossos funcionários e cuidadores de autistas. Oferecemos todos os benefícios para as famílias, bem como troca de experiências,” ― destaca Carla Silveira, líder do pilar de autismo do ADA. 

Já a IBM criou um grupo de afinidade em neurodiversidade, e em outras áreas de inclusão. Esses grupos são formados por funcionários voluntários que debatem assuntos de interesse, compartilham experiências para ampliar o conhecimento e sugerem ações para promover o respeito e contribuir para um ambiente mais diverso e inclusivo.

Desde 2019, com o apoio da Specialisterne ― consultoria especializada na formação e capacitação de pessoas com autismo e sua inclusão no mercado de trabalho ―, a IBM tem trabalhado com a inclusão de profissionais autistas dentro das áreas de tecnologia e consultoria. 

“Iniciamos o projeto com uma primeira onda de contratação e atualmente estamos indo para a terceira. O programa tem sido muito bem sucedido, e isso nos levou a pensar em uma forma de expandir as discussões sobre o tema para toda a organização. Nesta linha, a criação do grupo de afinidade torna-se chave para este objetivo. A criação do grupo de afinidade de neurodiversidade no Brasil reforça o compromisso de diversidade e inclusão da IBM em promover a igualdade de oportunidades e criar um ambiente saudável onde todos possam se sentir acolhidos e respeitados. O nosso grupo tem a missão de aumentar a conscientização no tema e prover aos nossos colaboradores neurodivergentes e aliados uma ferramenta de suporte, desenvolvimento e networking.” ― esclarece Roberto Santejo, líder do grupo de afinidade de neurodiversidade da IBM Brasil.

Além disso, Santejo reforça que “à medida que ampliamos o conhecimento sobre o tema, as barreiras são reduzidas, sejam vieses, preconceitos ou processos. Todo esse processo de aprendizado permite que as pessoas ou áreas envolvidas se transformem em um ambiente cada vez mais inclusivo. Como resultado, prepara a organização para ampliar sua demanda por profissionais neurodiversos. Queremos diferenciar inclusão de integração (…) O que buscamos é a inclusão. Nosso ambiente organizacional precisa estar preparado para receber os profissionais independentemente de suas diferenças.”

Iniciativas como as da Johnson & Johnson e da IBM abordam o tema autismo e neurodiversidade como um pilar essencial a ser considerado pelos programas de diversidade e inclusão, trazendo o protagonismo para as pessoas com habilidades diversas, familiares e aliados.

Trabalhar na IBM abriu portas que eu nunca pensei que se abririam na minha vida profissional. Hoje, sou um profissional satisfeito e realizado, graças à oportunidade de trabalhar na IBM”, declara Rodolpho Molina, colaborador IBM, que ingressou na companhia através do Programa de Neurodiversidade Specialisterne.

Fui consultor da Specialisterne, trabalhei em algumas empresas e hoje estou na Johnson & Johnson. A companhia mantém um programa de diversidade incrível com o ADA, não só em relação ao autismo, mas em vários outros aspectos, o que me interessou bastante. Essa oportunidade tem sido muito importante para a minha carreira e para a minha vida”. afirma Felipe Yoshio.

Transformando o invisível em prol da sociedade. Esse é o meu conceito para a parceria Specialisterne e Johnson & Johnson (Projeto Spectrum). De um lado, o credo da Johnson & Johnson nos ensina que ‘devemos desenvolver um ambiente de trabalho inclusivo, onde valorizamos cada pessoa como ela é, sendo considerada como um indivíduo. Devemos respeitar sua diversidade e dignidade e reconhecer seu mérito’, do outro, a Specialisterne oferta formação técnica e age como sócio laboral para indivíduos no espectro autista. Quem poderia conectar os dois lados? Claro, o Thiago! Desta forma, minhas habilidades e competências tornaram-se visíveis para o mercado de trabalho. Consequentemente, somente aos 30 anos, com o primeiro emprego, consigo sonhar com a minha autonomia e independência. Sabe quem se beneficia? A sociedade. Graças à diversidade e inclusão garantimos a equidade, ou seja, a diferença é valorizada!”, enfatiza Thiago Menezes.

Estes depoimentos reforçam, de forma clara e objetiva, o quanto os grupos de afinidade colaboram para uma inclusão de qualidade, contribuindo para que as organizações sejam mais inovadoras, com equipes mais produtivas, diversas e engajadas.

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Psicólogo, especialista em terapia comportamental cognitiva em saúde mental, mestre em psicologia da saúde, com experiência na gestão de programas de diversidade e inclusão em empresas como Sodexo no Brasil. Há 4 anos, faz parte do grupo de trabalho sobre Direitos Humanos nas Empresas da rede brasileira do Pacto Global da ONU e é diretor geral da Specialisterne no Brasil, organização social de origem dinamarquesa presente em 21 países, que atua na formação e inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho.

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