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O lugar de onde falo é de dentro do Espectro. Sou parte do grupo daqueles que, ao longo da vida, desenvolveram estratégias adaptativas e seus potenciais a partir das experiências na escola da vida e na pós-graduação do sofrimento; mas não sem danos no caminho, por termos em nós a marca da diferença neurológica, sensorial e psíquica.
O custo de um autista para tentar se adaptar à realidade que funciona diferente da sua configuração é alto. No percurso, mascaramos quem de fato somos, nossas singularidades, perdemos nosso senso de valor e identidade.
Alguns danos podem ser tão irreparáveis que, por conta disso, o sentido da vida se perde, e os problemas de ansiedade, depressão, ideação e tentativa de suicídio despontam e se amontoam. Com isso, perdemos tantos talentos, tantos sonhos e tantas vidas autistas!
Poucos sabem, mas muitos de nós já foram selecionados e classificados para viver ou morrer na época do Nazismo. Hans Asperger foi um dos nomes que teve importante papel naquele regime. De um lado, temos seus escritos sobre as crianças autistas que precisavam de menos suporte, os “pequenos professores” – como ele chamava, e que foram escolhidos para viverem porque poderiam ser “úteis” na sociedade por sua capacidade intelectual e verbal.
E de outro, nossos amigos do lado do Espectro que, por terem deficiência intelectual ou qualquer outra dificuldade maior de adaptação, foram condenados à morte lenta por envenenamento; a famosa eutanásia infantil, que acontecia em instituições de Viena.
Ao longo da história da ciência e da humanidade, muitos outros autistas foram separados de suas famílias e internados em hospícios, lobotomizados, sujeitos a torturas como tratamento com choque elétrico, por exemplo, por serem pessoas que não “funcionariam” na sociedade; por isso, melhor que estivessem à parte.
Da década de 1980 para cá, é que muito se tem estudado e se desmistificado a respeito do Autismo. Ou melhor, dos AUTISMOS, já que essa condição é um Espectro de possibilidades e nuances que poucos têm conseguido compreender, e muito se tem a estudar.
Entretanto, ainda sofremos com a negativa de matrícula em escolas, a escassez de profissionais qualificados e atualizados quanto ao TEA, a falta de acesso às terapias, à inclusão no mercado de trabalho e até mesmo com as violências, os assédios e os abusos de toda sorte em consultórios médicos, ao sermos invalidados em nossa tentativa de buscar respostas com um diagnóstico.
Todo esse retrospecto é importante para dizer que o que os autistas do passado, do presente e do futuro, no mundo todo, mais desejam é: RESPEITO A TODO O ESPECTRO; RESPEITEM OS AUTISTAS!
Rauana Batalha Albuquerque Mendes