16 de abril de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Nova pesquisa do CDC considera crianças de 8 anos; o número de diagnósticos continua crescente

Mais uma vez, os números cresceram. A prevalência do transtorno do espectro do autismo (TEA) nos Estados Unidos é agora de 1 em cada 31 crianças de 8 anos (3,22% da população), segundo o mais recente relatório bienal divulgado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). O estudo científico, divulgado oficialmente em 17 de abril de 2025, analisou dados de crianças nascidas em 2014, abrangendo 16 regiões dos Estados Unidos, e apresentou uma prevalência superior à do estudo anterior, de 2023, que havia indicado 1 em cada 36 crianças (2,78%).

Com a nova prevalência, uma projeção equivalente para o Brasil indica que o país poderia ter atualmente cerca de 6,9 milhões de pessoas autistas, considerando a população brasileira atual estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 212,6 milhões de habitantes.

Publicidade
Tismoo.me

Homens x Mulheres

A relação entre o número de homens e mulheres com diagnóstico de autismo continua diminuindo. Neste estudo, o CDC apontou uma proporção de aproximadamente 3,4 homens para cada mulher diagnosticada com TEA, em comparação à proporção anterior de 3,8 para 1, indicando um avanço importante na identificação do autismo entre meninas, historicamente subdiagnosticadas.

Grupos étnicos

Outro destaque relevante do estudo foi a prevalência entre diferentes grupos étnicos. As prevalências registradas foram: asiáticos (3,82%), negros (3,66%), hispânicos (3,30%) e brancos (2,77%). O fato de pessoas brancas agora apresentarem uma prevalência menor não invalida a relação entre acesso e diagnóstico, mas reflete que a curva de diagnóstico precoce já se estabilizou para esse grupo, enquanto outras populações ainda estão numa curva ascendente. Segundo especialistas, o aumento constante na prevalência reflete especialmente o maior acesso à saúde e à informação sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA). Um forte indício disso é que o crescimento nos diagnósticos tem ocorrido majoritariamente entre as populações negra e hispânica nos EUA.

‘Autismo de 20 anos atrás’ continua em 1%

Para o neurocientista brasileiro Alysson R. Muotri, professor na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), o novo número merece atenção especial. “Esse número dá uma falsa impressão de que o autismo é muito presente. É uma consequência da expansão que vimos nos últimos anos [após o DSM-5, em 2013, por exemplo]. O autismo (como conhecíamos antes, há 20 ou 30 anos) continua sendo por volta de 1% da população. Os autistas profundos, os primeiros que foram diagnosticados, na primeira definição de autismo, que têm uma dependência muito grande no dia a dia, continuam sendo muito raros. O autismo, por si, agora é um guarda-chuva de diversas síndromes raras. A expansão do diagnóstico inclui outros casos mais leves de autismo, de indivíduos mais independentes, o que não condiz com a realidade clínica. Além disso, o que foi positivo no começo, com a expansão do diagnóstico, pesa ao contrário agora, fazendo o autismo parecer algo mais comum e, para alguns governos, pode ser considerado uma condição de saúde com menos importância, que não deveria ser investigada, prejudicando mais aqueles casos mais graves, que têm uma necessidade maior e mais emergencial”, afirmou Dr. Muotri, que também é cofundador da health tech Tismoo, no Brasil.

Declarações e controvérsias

O secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., chamou os novos números de “epidemia de autismo” e afirmou que a condição atinge hoje “uma escala sem precedentes na história humana”. Em nota divulgada pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), Kennedy declarou: “Um em cada 31 americanos nascidos em 2014 está incapacitado pelo autismo. Isso é quase cinco vezes mais do que quando o CDC começou a fazer esse levantamento, em crianças nascidas em 1992”. Segundo ele, a missão do governo agora é identificar as causas do que classificou como uma “epidemia de doenças crônicas da infância” — e estabeleceu um prazo até setembro deste ano (2025) para obter essa resposta.

As declarações de Kennedy Jr., no entanto, são recebidas com cautela por especialistas. Ele é conhecido por declarações controversas sobre saúde pública, especialmente sobre vacinas e autismo — vínculo que já foi amplamente desmentido pela ciência. O uso do termo “epidemia” para se referir ao autismo também é considerado inadequado pela comunidade científica, que aponta que o aumento da prevalência está fortemente relacionado à ampliação dos critérios diagnósticos, maior conscientização e melhor acesso a serviços de saúde.

Mais informações e dados completos podem ser obtidos no estudo oficial do CDC, neste link.

Gráfico de Prevalência de Autismo nos EUA, com dados divulgados de 2004 a 2025, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA) — 1 em 31 — Canal Autismo / Revista Autismo

Prevalência de Autismo nos EUA, de 2004 a 2025, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA) — Arte: Revista Autismo / Canal Autismo

CONTEÚDO EXTRA

COMPARTILHAR:

Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

Podcast feito por autistas e psicóloga discute autismo na vida adulta

Escritor relata experiências com o autismo em livro

Publicidade
Assine a Revista Autismo
Assine a nossa Newsletter grátis
Clique aqui se você tem DISLEXIA (saiba mais aqui)