1 de agosto de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

A revista norte-americana Boston Review publicou uma coletânea de artigos sobre a neurodiversidade. Os textos foram organizados como uma espécie de fórum, com o texto principal “The future of neurodiversity” de Robert Chapman sendo comentado por outros autores, como Steven Kapp, Kristin Bumiller, Ari Ne’eman e Shirley Lin.

O texto principal, de Chapman, argumenta que o movimento da neurodiversidade está sendo cooptado por instituições que reforçam o status quo, e que existe uma necessidade de ultrapassar o paradigma atual e buscar uma verdadeira libertação neurodivergente. Robert faz uma distinção entre o movimento de neurodiversidade liberal, focado em reformas e reconhecimento de direitos, e um movimento mais radical que vá além das reformas liberais, visando resistir ao sistema econômico que perpetua a discriminação e construir uma consciência coletiva e instituições culturais que unam neurodivergentes e outros grupos oprimidos.

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As respostas foram mistas. Catherine Tan disse que a comunidade do autismo é fragmentada, com prioridades diferentes entre indivíduos autistas, pais e outros envolvidos. Essa fragmentação levanta questões sobre de quem os interesses estão realmente sendo representados. Tan enfatiza que, para que esse movimento mais radical tenha sucesso, ele deve representar inclusivamente os grupos mais marginalizados dentro da comunidade autista, incluindo aqueles com necessidades significativas de apoio e de diferentes origens socioeconômicas e étnicas.

Ari Ne’eman, por sua vez, defendeu que a proposta de Chapman de alinhar a neurodiversidade com uma crítica expansiva das relações capitalistas pode exacerbar a cooptação do movimento, uma vez que a neurodiversidade tem tido dificuldade em traduzir críticas em estratégias práticas de mudança. Ele observa que, embora o movimento tenha conquistado reconhecimento cultural, tem sido ineficaz em influenciar políticas públicas e práticas clínicas. Ne’eman defende uma abordagem prática da neurodiversidade, focada em reformas incrementais e tangíveis nos sistemas de serviço, com colaborações estratégicas com terapeutas e outros aliados. Ele alerta que, sem essa abordagem pragmática, o movimento corre o risco de se limitar a vitórias culturais sem impacto real na vida das pessoas autistas mais vulneráveis.

Kristin Bumiller elogiou a análise de Robert Chapman sobre o movimento da neurodiversidade, mas sugeriu uma crítica ainda mais profunda à política de autorrepresentação do movimento. Bumiller destaca que, embora o movimento esteja ganhando aceitação mainstream, isso expõe a limitação de quem se beneficia dele. Ela critica a identificação essencialista do autismo como uma identidade genética, que perpetua desigualdades sociais e negligencia a complexidade das condições genéticas. A autora também alertou para a baixa representação de autistas não falantes mais dependentes. Para um avanço verdadeiro, ela sugere uma política interseccional que reconheça a vulnerabilidade corporal universal e a interdependência, dissociando-se da identidade biológica do autismo e ampliando a crítica às normas sociais que impulsionam a identificação neurodivergente.

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