27 de dezembro de 2023

Tempo de Leitura: 4 minutos

O ano de 2023 ficou marcado pela continuidade de uma maior discussão sobre o autismo no país na esfera política, cultural e midiática, o que já é uma tendência nos últimos anos. A equipe do Canal Autismo / Revista Autismo manteve-se ativa em todo o período, fazendo cobertura dos temas mais discutidos dentro e fora do país. Trazemos aqui, então, os fatos que marcaram o ano de 2023 no Brasil.

Volta das caminhadas de 2 de abril

Depois de anos de pandemia, as caminhadas em referência ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo voltaram com força como não se via desde 2019. A maioria das grandes cidades tiveram caminhadas e eventos pelo Dia Mundial de Conscientização do Autismo — inclusive as maiores, Rio e São Paulo. A campanha nacional deste ano foi Mais informação, menos preconceito.

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Mais centros de referência

A criação de centros de referência em autismo já tinha sido destaque em 2022, e em 2023, mantém-se forte. Nos últimos meses, foram anunciadas unidades de saúde focadas em autismo em municípios de estados como Piauí, Goiás, Pará e Rio Grande do Sul.

Autismo e famosos

O diagnóstico tardio de autismo se tornou um dos principais temas de debate em 2023, sobretudo a partir de famosos. O principal caso comentado do ano foi o da atriz e ativista Letícia Sabatella. Nessa estreia, outros nomes também declararam serem autistas, como Danilo Gentili, Thiago Picchi e até a ex-Fazenda Nadja Pessoa.

Associações históricas

A primeira associação de autismo do Brasil completou 40 anos em 2023. A Associação de Amigos do Autista (AMA) surgiu em 1983, em São Paulo, e é a mais antiga instituição para atendimento de pessoas autistas na América Latina. A Associação Brasileira de Autismo (Abra), fundada em 1988, chegou a 35 anos. E em Fortaleza, surgiu em 1993 a Casa da Esperança, que completou três décadas este ano.

Planos de saúde e judicialização

Em 2023, cresceu o número de judicializações dos planos de saúde em tratamentos relacionados ao autismo. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) recebeu mais de 12 mil queixas relacionadas à assistência a pacientes autistas de janeiro a outubro, quase o dobro das reclamações de todo o ano anterior. Esse crescimento, segundo eles, está ligado à vários fatores, incluindo mudanças regulatórias que obrigam convênios a cobrir métodos indicados pelos médicos.

Políticos autistas

O Brasil tem, pela primeira vez em sua história, dois deputados autistas autodeclarados. O deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM), de 22 anos, tornou pública sua descoberta em resposta a críticas e perseguições políticas. Já a deputada estadual Andréa Werner (PSB-SP), de 48 anos, que já tinha o diagnóstico de TDAH e é mãe de autista, anunciou que também recebeu o diagnóstico de autismo este ano.

E gafes na política…

Políticos tiveram que se retratar em 2023 por declarações sobre o autismo. O vereador Eúde Lucas (PDT-CE), presidente da Câmara do município de Jucás, no Ceará, disse que autismo se cura ‘na chibata’ e ao pedir desculpas, afirmou que é autista diagnosticado. Em Araçatuba, o vereador Luís Boatto (MDB-SP) afirmou que a prefeitura contratou uma empresa para ajudar os alunos autistas, mas as mães tiveram que levar seus filhos para casa por falta de profissionais na escola. Em resposta, o vereador Maurício Bem Estar (PP-SP) disse que existe um aumento de casos de autismo e que os médicos não devem prescrever “diagnósticos pedagógicos”. A fala de Maurício gerou revolta entre famílias de autistas e teve repercussão nacional, o que lhe fez pedir desculpas.

Já em Arcoverde, no interior de Pernambuco, a ex-vereadora Zirleide Monteiro afirmou que o filho autista de uma mulher é “castigo de Deus” e insinuou que a criança nasceu com deficiência devido a dívidas com Deus. A declaração gerou indignação e condenação generalizada, levando o PTB/Patriota, seu antigo partido, a tomar medidas. Com a repercussão negativa, Zirleide renunciou ao mandato.

Inteligência artificial

A discussão sobre inteligência artificial ganhou as redes sociais e a sociedade logo no início do ano, com a popularização do ChatGPT. Ao longo dos meses, surgiram debates, por exemplo, se é possível que a inteligência artificial seja utilizada para diagnosticar o autismo. O mau uso das ferramentas de IA também causaram temores, incluindo o caso de golpistas que usaram voz e imagem de Marcos Mion para vender a cura do autismo.

Caso Riachuelo

Em Feira de Santana, na Bahia, a mãe de um menino autista afirmou que seu filho sofreu capacitismo em uma unidade da loja da Riachuelo localizada no Boulevard Shopping. Em vídeo disseminado nas redes, a mulher afirma que foi ao caixa preferencial e que, após o atendimento, a funcionária disse “Não me passe essas bombas não” para uma colega. Karla Gurgel, a funcionária, foi demitida, negou capacitismo e afirmou que sua demissão foi injusta, o que fez opiniões se dividirem na comunidade do autismo.

Governo de SP e o autismo

Em fevereiro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) vetou o projeto de lei 665/2020, do deputado Paulo Correa Junior (PSD), que previa considerar a validade indeterminada do laudo médico de autismo. O político argumentou que isso feriria o princípio da igualdade em relação a outras condições e que o autismo “diagnosticado precocemente até os cinco anos e onze meses de idade é mutável, podendo mudar tanto de gravidade como até mesmo deixar de existir”. A atitude gerou críticas generalizadas na comunidade do autismo, o que fez Tarcísio recuar e sugerir a derrubada de seu próprio veto, o que acabou ocorrendo.

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