1 de setembro de 2019

Tempo de Leitura: 3 minutos

Em junho, a cidade do Rio de Janeiro sediou seu 1º Congresso Internacional sobre os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Com o tema “atualização clínica e científica”, o congresso foi direcionado a médicos e demais profissionais de saúde e educação. Simultaneamente, no mesmo local, aconteceu também outro evento para o público leigo: o 1º Encontro Internacional de Associações, Familiares e Cuidadores de Autistas. Tudo realizado impecavelmente pela Associação Caminho Azul e seus mais de 100 voluntários.

O termo “internacional” veio da participação de vários palestrantes de outros países, mas poderia muito bem ter sido motivado pela excelência no nível de organização e profissionalismo do evento, que se estendeu por três dias, 27, 28 e 29, no hotel Windsor Oceânico, na Barra da Tijuca. Foi, sem dúvida, o maior evento de autismo deste ano, com um público de quase 2 mil pessoas — 1.080 no congresso e 850 no encontro, sem contar os voluntários trabalhando.

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A abertura foi um capítulo à parte. O tenor brasileiro Saulo Laucas, autista cego e pianista, deu um show tanto no piano quanto na voz, mas foi na parceria com o garoto norte-americano Jacob Velasquez, autista pianista de apenas 10 anos,  que levou o público às lágrimas. Jacob ao piano valorizou ainda mais a voz de Saulo e, juntos, transbordaram talento. Foram muitos os elogios, a começar pelo presidente da associação organizadora do congresso, o médico psiquiatra da infância e adolescência Caio Abujadi, que, com muita sensibilidade, fez o pronunciamento de abertura.

Destaques

Entre os brasileiros, dois grandes destaques do congresso foram a bióloga pesquisadora Patrícia Beltrão Braga e o médico neuropediatra Carlos Gadia. Patrícia, que é professora de Embriologia e Genética na Universidade de São Paulo e responsável pelo  “Projeto a Fada do Dente”, no Laboratório de Modelagem de Doenças do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, falou sobre a modelagem de doenças, em específico o autismo, usando células-tronco obtidas da poupa dos dentes de leite de crianças autistas.

Gadia, que é diretor-associado do Dan Marino Center – Miami Children’s Hospital, na Flórida (EUA), tirou muitas dúvidas do público a respeito de autismo, tratamento e diagnóstico, na sessão “Perguntando ao especialista” do congresso.

O destaque estrangeiro ficou para as pesquisadoras norte-americanas Cheryl Klaiman e Jennifer Stapel-Wax, ambas da Faculdade de Medicina da Universidade de Emory, em Atlanta (EUA), que coordenam estudos para reduzir o tempo necessário no diagnóstico de autismo com eye-tracking, o rastreamento ocular. O eye-tracking voltado ao autismo  vem sendo pesquisado em vários lugares desde a publicação de estudos em 2002, associado com outras técnicas, como a ressonância magnética funcional. “Estamos trabalhando para identificar as principais diferenças entre os bebês com e sem autismo. Ao longo do tempo, é provável que esse método ajude, numa escala mais ampla, a refinar o processo de diagnóstico precoce”, disse Jennifer.

As cientistas estadunidenses explicaram ainda que atrasos no desenvolvimento podem ser tratados mesmo quando houver somente uma suspeita. “Em geral, as crianças que apresentam atrasos, mesmo sem diagnóstico de autismo, se beneficiam da intervenção precoce”, argumenta Cheryl.

No encontro de associações, familiares e cuidadores, um dos pontos altos foi a mesa de discussão com a família Brito — do autista fotógrafo Nicolas Brito Sales — e da mãe Andréa Werner, junto com a família do norte-americano Jacob Velasquez. Várias respostas elucidativas trouxeram muita informação ao público. O advogado Luciano Aragão falando de aspectos legais da inclusão social, depois o psicólogo Marcelo Vitoriano, palestrando sobre o mercado de trabalho, também despertaram bastante interesse nos participantes, assim como todos os palestrantes internacionais.

Os vídeos de todas as palestras, na íntegra, estarão disponíveis em breve no site da Associação Caminho Azul (caminhoazul.com.br). E o 2º congresso já tem data: 20, 21 e 22 de agosto de 2020. Vai perder?

Francisco Paiva Junior viajou ao Rio de Janeiro a convite da organização do evento.

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Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

Autismo Severo: Janela de oportunidade

Associação Rondonopolitana de Pessoas com Transtorno Autista

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